Já no final dos anos 90, o conceito "uma vez na Internet, para sempre na Internet" começava a ganhar volume. Não pelas consequências da partilha de dados pessoais, que tanto nos preocupa no presente, mas mais pela dinâmica de comunicação com que a transformação digital nos confrontava.
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Se num passado longínquo era normal que uma pessoa se arrependesse por ter escrito algo na rede, hoje não é compreensível que alguém se surpreenda pela enorme repercussão daquilo que escreveu. Mas há. E quem se penitencia recorre, normalmente e por impulso, à solução imediata. Apagar o que registou. Esconder.
Foi o que fez o capelão Licínio Luís que defendeu os dois fuzileiros envolvidos numa rixa à porta da discoteca Mome, em Lisboa, que resultou na morte do agente da PSP Fábio Guerra. No post apagado, o padre fuzileiro considerou que "os jovens estavam a divertir-se e foram provocados. Estavam no mesmo âmbito e alcoolicamente tão bem dispostos como os nossos".
Respondendo ao duro discurso que Gouveia e Melo fez, e bem, aos fuzileiros após a morte do agente da PSP - "não quero arruaceiros na Marinha" - , o capelão questionou: "O senhor almirante nunca foi para a noite? Nunca bebeu uns copos? O senhor Almirante que aguarde pela Justiça. Julgar sem saber não corre nada bem".
Acabou, naturalmente, por pedir desculpa pela forma "incorreta e inapropriada" como se dirigiu ao chefe do Estado-Maior da Armada. Acabou, naturalmente, por ser exonerado. Por umas horas! O padre fuzileiro vai voltar ao serviço, agora, na Base Naval de Lisboa. Foi perdoado. ...
Fica o dito por não dito. De ambos os lados. Fica a ideia de compromissos e pressões entre instituições.
Resta-nos a garantia de que "uma vez na Internet, para sempre na Internet".
*Diretor-adjunto