A uma instituição com importância e relevo como o Hospital de Braga devem exigir-se, pelo menos, três coisas: rigor nas contas, transparência na comunicação do que ali é bem e mal feito e, antes destas, qualidade no tratamento proporcionado aos doentes.
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Sobre as contas, a atual administração tem dado nota de um esforço grande de poupança, o que, afinal, está em linha com a vida de todos nós.
Sobre a transparência na comunicação ficámos ontem a saber que a administração, confrontada com a notícia de um jornal (o "Jornal de Notícias", no caso), dispõe-se a esclarecer o conteúdo da mesma, mas esquece-se, certamente por distração, de convocar o órgão de comunicação social que publicou a notícia.
Mais: esquece-se,certamente por ditração também, de divulgar coisas tão básicas, contudo relevantes, como o nome do medicamento que, por alegada rotura de stock, deixou de fornecer a doentes cancerosos. O que se ganha com este tipo de saloio obscurantismo? A possibilidade de não se ficar a saber que a rotura de stock de um medicamento que custa 100 euros por mês aconteceu apenas no Hospital de Braga, de acordo com o Infarmed. Quer dizer: o problema é exclusivo do Hospital de Braga. Porquê? O hospital não esclarece, em mais um exemplo de transparência. Esclarece o Infarmed: o problema estará relacionado com má gestão de stocks do hospital.
Sobre o tratamento proporcionado aos doentes. A administração defende-se com números: mais 25 mil cirurgias em 2012 (acréscimo de 30% em relação ao ano anterior), diminuição em 35% do número de reclamações apresentadas pelos utentes do Hospital de Braga. São dados animadores, mas que colidem com a gravidade dos casos que, uma e outra vez, são relatados na comunicação social.
À rotura de medicamentos para doentes com cancro agora noticiada junta-se a falta e alteração de fármacos para doentes com esclerose múltipla, a morte, provocada por "erro humano", de uma mulher no Hospital de S. João (Porto) depois de ter feito um tratamento de fototerapia no Hospital de Braga... Não é, convenhamos, um atrativo cartão de visita.
A soma destes fatos não teve, até agora, grandes consequências para quem lidera a instituição. Mas,claro, chega sempre o dia em que passa a ser impossível caminhar por entre os pingos da chuva. A reação dura ontem divulgada pelo Ministério da Saúde permite antever que esse dia não está longe. "É grave e inaceitável" (sic) que o ministro da Saúde não tenha sido informado da rotura de medicamentos para doentes cancerosos", disse ontem o secretário de Estado adjunto do Ministério. Paulo Moita Macedo, o ministro da tutela, não costuma ser condescendente, quando os factos se impõem. Será o caso?