<p>O presidente da República pediu ontem, com jeitinho, a José Sócrates e a Manuela Ferreira Leite que ponham termo, o mais depressa possível, a uma das mais estéreis e lamentáveis polémicas dos últimos tempos: a escolha do sucessor do actual provedor de Justiça. Nascimento Rodrigues já devia ter abandonado o cargo há cerca de oito meses, mas lá permanece contra a sua vontade. Neste espaço de tempo, surgiram na praça doutos nomes (Freitas do Amaral, Laborinho Lúcio, António Arnaut e Rui de Alarcão), mas nenhum deles satisfez amplamente as partes (PS e PSD). </p>
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Estupefacto com o impasse, Cavaco Silva abordou ontem o tema. O chefe de Estado considera que, "para a defesa da credibilidade das instituições democráticas", é "fundamental que rapidamente a Assembleia da República eleja um novo Provedor de Justiça". Ora, isto não é coisa pouca. Disse mais o presidente: "É difícil de compreender que, ao fim de tantos meses, ainda não tenha sido possível chegar a um entendimento para escolher o sucessor do doutor Nascimento Rodrigues", salientou.
É, de facto, difícil entender as causas e as consequências do impasse? Nem por isso.
Nascimento Rodrigues foi um excelente provedor de Justiça. Bateu-se, como lhe competia, pelos direitos dos cidadãos e teve a sabedoria de falar grosso quando isso se impunha, falando mais baixo quando os assuntos eram menos gravosos. Isso deu-lhe credibilidade. E uma boa imprensa. A verdade é que as suas palavras e as suas críticas pesavam, ainda que o seu poder fosse apenas o de apresentar recomendações no sentido de corrigir o que lhe parecia estar mal.
(Pena que tenha destruído parte desse capital numa entrevista em que preferiu fazer política em vez de explicar os danos que a sua não substituição está a provocar)
Ou seja: um provedor pode ser, de facto, incómodo. E esse não é um factor de somenos quando se olha para o futuro próximo: a instabilidade política pode tomar conta do país, fazendo emergir ainda com mais força figuras como a do provedor de Justiça. De modo que PS e PSD estão apenas a tentar limitar os danos, ao tentar escolher alguém que seja comedido nos puxões de orelhas.
Por outro lado, o que esta confusão revela é a forma despudorada como os dois principais partidos lutam por ter alguém da sua cor em tudo o que é alto cargo do Estado.
Consequência deste incómodo: o cidadão tende a ficar mais desprotegido perante o Estado. Coisa pouca, portanto.
P.S. Como mudou a estratégia mediática de Ferreira Leite... Cavaco falou da matéria, ela cavalgou a onda convocando uma conferência de imprensa sobre o tema...