<p>Não era preciso ser profeta para prever que este ano seria o ano de todos os protestos. O país, que não apenas o Governo, está confrontado com um dilema duro de resolver. Por um lado, de fora, surgem as posições dos mercados internacionais que, desconfiados e fazendo desconfiar das nossas finanças, provocam a subida do preço do dinheiro emprestado, apertando um gargalo cada vez mais asfixiante. Por sua vez, as restrições da UE que exigem o cumprimento, sem desvios, do PEC agudizam a situação financeira do país. Por outro lado, face a todas estas imposições que levam ao congelamento dos salários, à redução de subsídios e outros financiamentos para manter graus limiares de subsistência, emerge a natural contestação, em especial, por parte daqueles que mais "sofrem" na pele todos estes constrangimentos.</p>
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Sem ignorarmos o modo como se desenvolvem os níveis das lutas sociais, em períodos de profunda crise, as 19 greves anunciadas para esta semana podem ser vistas como o primeiro patamar de um estado social de confronto com contornos imprevisíveis. As greves representam as tomadas de posição de direitos constitucionais garantidos e que, não obstante os transtornos colectivos que originam, têm de ser respeitados. Todavia, também não é difícil prever que, pelo garrote imposto pelo PEC e pela real situação das finanças públicas, as reivindicações por elas reclamadas não tenham resposta adequada. Donde, a conflitualidade vai aumentar.
Acresce que a situação política do país em nada contribui para amainar este clima. O Governo é visto e acusado como o primeiro e principal responsável da situação a que se chegou. Se a luta social ainda está calma, o mesmo não se poderá dizer da luta político-partidária. A imagem que a ARtv (o canal do Parlamento) pela transmissão directa das sessões da Comissão de Inquérito ao falhado negócio PT/ TVI faz transparecer cá para fora não transfere qualquer acalmia. Parece que ali se joga um jogo perigoso que não é com o país.
Neste momento, a composição da AR tem condições para derrubar o Governo minoritário. Mas parece que não é por aí que se quer ir. Provavelmente, não basta derrubar por votos a uma moção de confiança o Governo e Sócrates. A luta passa por tentar provocar um "impeachment" que provasse ao povo que, afinal, os políticos mentem. Por uma vez se quer redimir o habitual comportamento. Como seja menos grave mentir ao povo do que mentir aos deputados.
Estamos mesmo a ficar gregos.