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Como a nossa memória é árvore carregada e, agitando-se, deixa cair lembranças em catadupa, a evocação das pinturas das quatro estações escondidas (oxalá) pelo antigo proprietário do Café Ceuta trouxe-me as lembranças dos bons tempos que lá passei com os amigos.
Desde 1952, o Ceuta foi, até à década de 70, quando a Boavista se alcandorou a Centro do Porto, a referência de muitos portuenses. Se eu tivesse notas de cem quantas as carambolas nos bilhares da sua cave (o nosso poiso predilecto), ficava rico. E recordo os rituais únicos: aos sábados, o famoso "lanche à Ceuta" (um prego servido em caçarola, acompanhado de pão de forma, regado com molho especial).
No Carnaval, além da distribuição de "mimos" doces à catraiada, organizavam – imaginem! – animados bailes. Pelo S. João funcionava a noite inteira e, conforme a tradição, servia anho assado depois da meia noite. E, entre as boas recordações, trago à colação os bolos-reis, "envernizados" e enfeitados por um confeiteiro de alcunha o “Pinta-Ratos”, que os fabricava para venda no café. E das animações culturais mais sofisticadas, destacava-se a actuação de conjuntos de Jazz.
Mas, para mim e os companheiros (alguns seriam figuras de relevo, de que não falo para não embaraçar os vivos - já que alguns morreram) o éden da devoção (e perdição, custava caro), era a cave, santuário bilharista onde se disputavam campe-onatos de "snooker" entre profissionais, que pichotes como nós tentavam reproduzir. Ao Ceuta não chegaria a classificação de loja de tradição, mas de “Património da Humanidade (a minha geração) em vias de extinção”.
O autor escreve segundo a antiga ortografia