Os resultados do barómetro que o JN publica este sábado nas páginas 4 e 5 são clarinhos: o estado de graça de António Costa é uma espécie de balão que parece não parar de encher. De tal modo que, se as legislativas acontecessem por estes dias, o PS ficaria muito perto de alcançar a segunda maioria absoluta da sua história. Relativamente a abril, regista-se, no caso do PS, um disparo de nove pontos percentuais, de 36% para 45%, nas intenções de voto expressas pelos inquiridos no estudo feito pela Universidade Católica. O PSD perde 2 pontos percentuais, para 28%, e o CDS/PP mantém o resultado anterior: 4%.
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A coisa está feita? O fenómeno é irreversível? Não creio. Acredito mais na hipótese de António Costa e o PS terem já atingido o ponto mais alto. Por três razões cumulativas: há um novo - e bom - ator político em cena, o que faz aumentar a "esperança" dos portugueses, que, por sua vez, faz crescer a descrença no atual Governo. Vale o mesmo dizer: fruto de causas e consequências conjunturais, o balão encheu até ao limite. Ou seja: a partir de agora, só pode perder volume. A menos que as causas e consequências passem de conjunturais a estruturais.
O estudo da Católica conhece-se poucos dias depois de o Governo ter apresentado o Orçamento do Estado (OE) para 2015 e as reformas do IRS e da fiscalidade verde. Conseguir percecionar com que lente receberam os portugueses as notícias resultantes destes três documentos não é fácil. Mas talvez não corramos grande risco, se dissermos que as contas do barómetro seriam ainda mais penalizadoras para o Governo, simplesmente porque em nenhum daqueles documentos há matéria suficiente para alegrar os indígenas.
Não há nem podia haver. Pode discutir-se se o OE deveria, ou não, ser mais ambicioso no corte da despesa e não tanto no aumento da receita; pode discutir-se se a reforma fiscal deveria, ou não, ser mais generosa; pode discutir-se se a fiscalidade verde deveria, ou não, ser mais ou menos arrojada... Pode discutir-se tudo isso, mas nada disso fará grande sentido se perdermos de vista os chamados "fundamentais".
Ora, a semana foi bastante pródiga, no que aos "fundamentais" diz respeito. A crise política levou a Grécia de volta às complicações de 2010, com os juros a pagar pelos empréstimos pedidos a dispararem para 9% (por cá, galgaram até aos 3,4%, percentagem que já causa comichão nos mercados). Os avisos da senhora Merkel relativos à derrapagem dos défices não são coisa desprezível. O abrandamento económico, atual e expectável, provocou uma tempestade séria nas bolsas europeias. E por aí fora...
Não creio que o charme político de António Costa, enroupado com duas ou três tiradas de circunstância, baste para nos tirar do meio desta tormenta sem fim à vista. Não creio.