É importante repetir: foram 308 eleições municipais. As aspirações das populações, o contexto político e os protagonistas de Lisboa pouco ou nada têm a ver com os do Porto.
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E qualquer destas cidades está a um mundo de distância de Vizela (onde o PS obteve 74,09%) ou de Sernancelhe (onde o PSD faturou 81,89%). As leituras nacionais são, portanto, escorregadias. Mas, apesar disso, possíveis e legítimas. Sobretudo quando a comparação se faz com as autárquicas de 2017.
Essa comparação pode ser, desde logo, qualitativa. O que beneficia o PSD (e castiga PS e PCP). Porque foram os sociais-democratas a obter as vitórias mais saborosas da noite: conquistaram aos socialistas câmaras como Lisboa, Coimbra, Barcelos e Funchal. Ou seja, quatro dos maiores 24 municípios do país (os que têm mais de 100 mil habitantes), sem perder nenhum. Soma-se um outro dado quantitativo, que ajuda Rui Rio a ganhar fôlego: entre deve e haver, o PSD tem mais 16 presidências.
É um resultado positivo (sobretudo se tivermos em conta as expectativas anteriores, sempre importantes na análise política posterior), mas ainda não suficiente para se falar em mudança de ciclo a nível nacional. Como se prova pela análise quantitativa aos resultados globais. Se somarmos as percentagens das votações de PSD e CDS (e de todas as coligações em que estiveram envolvidos), ficaram-se pelos 33,9%, menos cinco décimas do que há quatro anos e a quase quatro pontos percentuais do PS (37,54%). Acrescentando o Chega e a Iniciativa Liberal, a Direita soma 39,36%. É pouco mais do que o PS sozinho e ainda distante da Esquerda (socialistas, comunistas e bloquistas somaram 48,5%, menos três pontos do que há quatro anos).
Sugerir uma crise política por causa destas autárquicas é pura especulação. Se há ou vai haver crise de Governo será mais por causa de frases "assassinas" como a do ministro Pedro Nuno Santos (Infraestruturas) sobre o ministro João Leão (Finanças), a propósito da crise na CP, do que por causa do resultado das autárquicas. Mesmo que estas contribuam para provocar um desagradável formigueiro entre os socialistas.
Diretor-adjunto