Vamos ter eleições autárquicas no próximo domingo. É preciso escolher, de forma consciente, em quem votar. Para isso seria preciso saber o que pretendem e o que propõe os candidatos. Só que não é esse o propósito de uma campanha eleitoral. Ao que se assiste é a uma espécie de loucura circense, com muita gritaria, megafones, bandeiras, comentários às vezes palermas e acções de compra de voto às vezes boçais.
Corpo do artigo
Lê-se o jornal, vê-se televisão, ouve-se rádio... e o que fica na memória é Elisa Ferreira a referir-se ao seu emprego de eurodeputada como uma gamela; é Valentim Loureiro a entregar pessoalmente, na Câmara de Gondomar, os convites para o espectáculo de Tony Carreira; é Isaltino Morais, condenado a uma pena de sete anos de cadeia, de peito feito para mais uma vitória; é a sucessão de octogenárias e nonagenárias candidatas às freguesias do Portugal profundo que desfilam como se fossem animais de circo. A mensagem não interessa, importante é a imagem do candidato, mesmo (ou sobretudo) que já não tenha dentes, probidade, escrúpulos ou sensatez (a ordem não é aleatória, mas é inversa).
Discussão séria há pouca porque, pelos vistos, seriedade e votos não se cruzam. Como aliás admitiu explicitamente Rui Rio, autor da única proposta digna desse nome nesta campanha eleitoral autárquica: redução dos limites de endividamento nas autarquias e mudança radical do seu financiamento, acabando de vez com a dependência suicida e corruptora da construção civil. Ninguém apoiou, ninguém contestou. Porque uma campanha não serve para debater, serve para comprar votos.
2. A escolha do Rio de Janeiro para sede dos Jogos Olímpicos de 2016 representa o reconhecimento do Brasil como uma das grandes potências, já não do futuro, mas do presente. Mas não é só o país que assim é justamente reconhecido. É também a sua liderança. E o líder em particular, Luís Inácio "Lula" da Silva. O fundador do Partido dos Trabalhadores, onde reuniu dirigentes sindicais, intelectuais de esquerda e adeptos da teologia da libertação. O operário metalúrgico que se tornou presidente depois de muitas tentativas e outras tantas derrotas. O homem carismático que se mostrou pragmático. Alguém que percebeu que um país - e o Mundo - não se muda com revoluções, mas com persistência, convicção e compromisso. O homem que se apresentou ao Mundo no Fórum Social Mundial de Porto Alegre, junto dos sem terra. O presidente que conquistou assento, sem dar o dito por não dito, no Fórum do G20, junto dos donos da terra. Alguém que lidera uma das maiores potências mas que não deixa nunca de parecer o operário metalúrgico barbudo que sempre foi. Sobretudo quando chora como se fosse um menino.