Se há coisa que o português não gosta, é de ficar atrás de um espanhol. Tem sido assim, normalmente, pelos melhores motivos. Mas agora, mérito de algumas esquerdas, também por outros. Na política, para mal dos nossos pecados, é como se vê. Os espanhóis têm Pablo Iglesias. Nós temos o José Manuel Coelho.
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Eles levam com a imagem assustadora do beijo barbudo do chefe do Podemos, na boca do parceiro catalão, em plena sessão parlamentar. Nós com o striptease caseiro do político regional madeirense, adornado com panamá na cabeça à saída de cena.
Eles dizem olé e nós, valha-nos a Santa.
Vivemos tempos estranhos, de absoluto relativismo moral. O que seria normalmente interpretado como ridículo, impróprio de gente decente ou destituído de um mínimo de dignidade no exercício do cargo e da função, ganha foros de protesto ou afirmação fraturante e é notícia. Eleva-se o grotesco a um ativo na política. E no dia seguinte, continua tudo na mesma.
A dialética parlamentar acaba transposta para o palco da Comunicação Social. Valoriza-se o fogacho, o momento, mesmo que insólito ou desgarrado de qualquer propósito capaz de melhorar a vida das pessoas. Importa assegurar o destaque da primeira página ou a abertura de um noticiário televisivo. Tudo vale, desde que chame a atenção mediática. E não falta quem aplauda.
Convirá recordar que o Podemos foi a terceira força política mais votada nas últimas eleições legislativas em Espanha e Pablo Iglesias será, provavelmente, um dos mais poderosos ministros do próximo Governo.
Já por cá, José Manuel Coelho foi candidato a presidente da República, contando com 4,49 % dos votos expressos. É deputado regional por vontade dos eleitores. Foi escolhido por António Costa para integrar a Coligação Mudança que juntou o PTP, PAN e MPT ao PS nas eleições regionais da Madeira. E de braço dado diziam que a 29 de março último começaria a mudança do país.
Um pouco por todo o Mundo, os escândalos associados à corrupção, permitidos pelos partidos tradicionalmente vencedores, dinamitaram os pilares das democracias modernas. Os fenómenos exóticos que o protesto coletivo vem legitimando como alternativa nas urnas arriscam-se a concluir o trabalho.
Churchill testemunhou em vida que a democracia é o melhor dos sistemas, com exceção de todos os outros. Não viveu o suficiente para perceber como o pior, que o melhor dos sistemas pode gerar, consegue mesmo assim ganhar músculo, com o assentimento popular.
O circo continua.