O clima pode esperar, ou foi sempre assim?
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Nos corredores do poder e nos bastidores das grandes decisões económicas, fala-se muito sobre tarifas comerciais, inflação, conflitos geopolíticos e estratégias energéticas. Mas e os objetivos climáticos? Será que continuarão a ser uma prioridade ou apenas um acessório político conveniente, pronto a ser descartado sempre que surge uma nova urgência?
A globalização trouxe avanços inegáveis, mas também revelou o seu lado perverso. A obsessão pelo curto prazo transformou-se numa miopia coletiva, onde os desafios ambientais são frequentemente empurrados para segundo plano. A tendência a que se tem assistido é a de que, muitas vezes, sempre que surge um novo tema na agenda internacional que exige resposta imediata, o sacrifício parece ser sempre o mesmo: o compromisso climático. Mas será inevitável que seja assim? Ou estamos apenas a propagar uma tendência míope que deve, e pode agora, ser atenuada?
Recentemente, assistimos a uma potência mundial a reafirmar a sua aposta na exploração petrolífera, enquanto eventos climáticos extremos castigam economias e comunidades. A contradição é evidente: ignoramos os sinais e adiamos decisões, mas o preço dessa inação já se faz sentir, e muito. Talvez seja triste de se refletir, mas o curto prazo ambientalmente doloroso que vivemos hoje já foi, há alguns anos, o nosso longo prazo descuidado.
Nos discursos, nas campanhas e nas conferências internacionais, ouvimos sempre a mesma promessa: a luta contra as alterações climáticas é urgente e inadiável. No entanto, basta um novo evento na agenda geopolítica ou uma alteração económica inesperada para que o tema seja rapidamente estacionado ou mude de ritmo.
As políticas climáticas não podem continuar a ser tratadas como um acessório que se "coloca" ou se "retira" conforme o momento. O meio ambiente não negocia, não adia e não se adapta ao nosso ritmo. A União Europeia, em particular, se mantiver a liderança na transição energética, poderá demonstrar que economia e sustentabilidade não são incompatíveis, mas sim, e cada vez mais, indissociáveis.
A pergunta, portanto, impõe-se: estamos condenados a repetir este padrão? Ou conseguiremos, finalmente, integrar os compromissos ambientais em simultâneo com as restantes exigências de curto prazo? A história recente sugere que o problema não é a falta de informação ou de acordos internacionais, mas sim a falta de coragem, ou, em alguns casos, de consciência, para enfrentar a realidade. Até quando?