Bem vistas as coisas há algumas semelhanças entre Leonardo Di Caprio e Pedro Passos Coelho. Ambos concorrem para o Oscar do melhor ator (financeiro) do ano e pelas mesmas razões: encarnam na perfeição o tipo que consegue vender pelo "telefone" milhões e milhões com grande sucesso. A diferença é de que um é o lobo e outro o que toma conta da toca suculenta.
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Talvez no momento mais extraordinário de "O lobo de Wall Street", o ator Matthew McConaughey (no papel de sénior de uma casa de corretagem) explica ao jovem futuro corretor Leonardo Di Caprio como se pode vender gato por lebre sem quaisquer problemas ou dilemas. Há sempre quem compre todo o tipo de coisas, mesmo por preços absurdos, se lhe soprarem ao ouvido que pode subir mais ainda. Ou quem compre lixo achando que o mercado é o rei Midas: se se inclina para ali, o que era lixo passa a ser ouro. E depois lixo outra vez.
Portugal, no seu extraordinário posicionamento "lixo" foi ontem aos "mercados" e foi levado em ombros pelos "mercados". Três vezes mais procura que oferta! Fazem fila (virtual) à porta do Instituto de Gestão do Crédito Público para nos emprestarem dinheiro! A um país quase falido! É extraordinário. Os portugueses são extraordinários. Todos respiramos de alívio. O pior já passou...
Já agora... uma dúvida: por que fazem fila os mercados à nossa porta? O negocio é simples: nós pagamos juros acima dos 5%. Uma maravilha. Não podia ser melhor. Mas, factos reais: um crescimento de 1% dá para sustentar juros de 5%? Não. Estamos a pedir emprestado com juro mais baixo para abater dívida que já vai acima dos 130%? Não. Temos, pelo menos, o défice equilibrado? Não - é superior a 4%. Então, por que raio quer tanta gente emprestar-nos dinheiro?
Num mundo com poucas garantias e taxas de juro baixíssimas nos países que "valem a pena" - veja-se o caso da Alemanha que recebe dinheiro a quase zero porque é seguro - somos um grande negócio. Portugal está no euro e o Banco Central Europeu (BCE) acabará por pagar a conta se nós não o conseguirmos fazer. Entretanto, sempre podemos ir liquidando o que resta do Estado para dar aspeto de país "dos mercados". Ou seja, tudo. Exatamente como temos vindo a fazer.
Pedro Passos Coelho apresentou-se com este perfil liquidatário aos mercados em devido tempo. O seu histórico artigo de 30 de março de 2011 ao "Wall Street Journal" era claro: o PSD tinha chumbado o PEC IV de Teixeira dos Santos não porque ele fosse demasiado ousado mas "porque não ia suficientemente longe". Os mercados gostaram. Os portugueses correram com os socialistas de olhos fechados e instalaram o nosso Coelho de Wall Street a tomar conta do galinheiro, ou coelheira, ou o que quiserem. Os lobos gostaram.
Por agora vendemos o nosso perfil de dívida "lixo" como se fosse ouro. O que importa é ir sempre vendendo. Enquanto alguém emprestar, tudo rola. Outra dúvida: e que tal um programa cautelar para garantir juros abaixo dos 3%? Bom... isso seria razoável. Mas que se lixe. Coelho é o rei. The king. Juros a 5% por cento é como cocaína para quem não quer ressacar (perder as eleições): snifa-se mais alguma e logo se vê.
Portugal está, afinal, numa senda nova. O desemprego desceu dois pontos e as exportações (descontada a refinaria da Galp) cresceram um por cento... O que é isto? A Standard dos Poors ou a Moody's mantém-nos "junkies". No verdadeiro sentido da palavra - junkie, de lixo, mas junkie de agarrados à droga. À dívida.
Esta malta 'internacional' que gosta de comprar ativos tóxicos (como dívida portuguesa) está como quer: mostra bons rácios de crescimento para os PPR ou fundos de risco por esse mundo. Em compensação alcança os "objetivos" e lá vai prémio - o iatezinho ou a mansão em zona chique. Nós vamos cortando quotidianamente em tudo para pagar a colossal dimensão da dívida (os juros são praticamente do tamanho do défice). E o nosso Coelhinho a fumar charutos sempre que "Wall Street" vem cá despejar milhões enquanto nos comem, aos pedaços. Sucesso!, diz ele.
Tal como o personagem de Leonardo Di Caprio, ainda veremos Passos a dar conferências pelo Mundo a explicar como liderou o sucesso da recuperação portuguesa. Pena não o terem deixado acabar a obra... Ou talvez deixem. O Seguro morreu de velho...