É um lugar-comum de qualquer processo eleitoral. Há sempre vencedores, raramente há vencidos. Concluída a "primeira volta" das eleições no PS, a conclusão é a de sempre: ganharam todos.
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José António Seguro reclama vitória, jogando com a soma total de votos nos candidatos a líderes distritais que o apoiam (52% contra 48%), ou com a soma do número de delegados eleitos no conjunto das 19 federações para os congressos que se seguem. António Costa reclama a vitória, apontando o maior número de votos nas 10 distritais em que, de facto, estiveram frente a frente dois candidatos de linhas diferentes (56% contra 43%), ou a soma de líderes distritais que agora o apoiam: 10 contra 9 de Seguro. Na verdade, de um lado, como do outro, são contas de lana caprina. Servem apenas para convencer ou mobilizar aqueles que, nestas alturas, gostam de aparecer na fotografia ao lado do futuro vencedor. Ainda que isso não vá tolher a ação política de qualquer líder distrital socialista depois de 28 de setembro (data do tira-teimas). Na própria noite, deixará de haver 10 "costistas" e 9 "seguristas" para haver 19 "socialistas" apenas interessados no progresso do país e, eventualmente, nas prebendas que o poder lhes poderá trazer. Ao si próprios e aos seus. O problema é saber que poder irá o PS conseguir, se é que algum.
É também um lugar-comum concluir que, neste tipo de disputas internas, não há vencedores, há apenas derrotados. E, neste caso, o lugar-comum bem poderá corresponder à verdade. O PS vive num clima de guerra civil há vários meses e os ataques pessoais entre Seguro e Costa marcam e vão continuar a marcar um debate que tem pouco de político e mais de ajuste de contas. E assim se transformará o que poderia ter sido um processo exemplar - no sentido em que o partido se abre a todos os que queiram participar na discussão e na escolha - num combate de boxe ainda mais violento do que o habitual. Ainda que a vitória vá ser por KO técnico, uma vez que ficou provado que não mora por ali nenhum campeão. Nem Seguro controla o aparelho, nem Costa tem a popularidade que tantos (dentro e fora do partido) lhe atribuíam. E novamente se levanta o problema de saber, terminado o combate, que poder irá de facto o PS conseguir, se é que algum.
Se alguma virtude tem este processo - para além da homenagem a cidadãos falecidos que mantêm militância ativa no PS - é em favor da concorrência. Desde logo, em favor do PSD, que as últimas sondagens dão a apenas cinco pontos percentuais dos socialistas. Somando os apoios conseguidos pelo CDS, já chega para ficar em primeiro lugar. Imaginar que isso seja possível - e um destes dias até apontá-lo como provável - depois de três anos em que os portugueses foram castigados com aumentos duríssimos de impostos, cortes nos salários e nas pensões, desemprego, emigração e empobrecimento massivo, diz bastante sobre a autofagia a que se entregou o PS. Em favor, depois, da concorrência mais à Esquerda. Em primeiro lugar, o PCP, uma espécie de valor refúgio (como o ouro) em tempos de crise. E até para o BE, que talvez consiga adiar a dissolução anunciada por mais uma legislatura.