N os tempos áureos da Imprensa, um dos clássicos da página dos passatempos era o desafio de descobrir as sete diferenças entre dois desenhos aparentemente iguais, que exigia olho para o detalhe e era vizinho do horóscopo, palavras cruzadas e as tiras de quadradinhos da a atrevida Lola, o bom do dr Kildare ou o audacioso agente secreto X9.
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Em benefício dos leitores do "Expresso", a minha amiga Cristina Figueiredo entregou-se a um passatempo idêntico, lendo, com atenção ao pormenor, "Compromissos para o futuro" e "Caminho aberto", os livros em que Seguro e Costa reuniram os artigos e discursos que, na opinião deles e da editora Quetzal, melhor sintetizam o seu pensamento. No final desta estopada (o que uma pessoa faz para ganhar a vida!) de estudo comparado, concluiu, com certeza científica, não haver diferenças sensíveis entre o que eles pensam e propõem.
Marcelo Rebelo de Sousa chegou à mesmíssima conclusão e sentenciou que Costa está na posição confortável de não ter de apresentar uma ideia, porque a grande diferença em relação a Seguro é ele próprio. Apesar de ser um brincalhão incorrigível, acredito que o professor estava a ser sincero.
Este mês, Marcelo confessou que a sua maior asneira enquanto líder da Oposição foi não dar ouvidos a Guterres, que lhe dissera que para chegar a primeiro-ministro bastava estar quieto, não fazer nada. Ele mexeu-se de mais e tramou-se. Mas aprendeu, e desinteressadamente fez a mesma recomendação (fazer de morto) a Seguro, que agradeceu a dica, e lhe confidenciou que recebera de Guterres o mesmo conselho.
Posto isto, creio ser consensual estabelecer que o que está em curso no PS não é um debate sério entre duas visões diversas sobre como tirar o país do atoleiro, mas antes um concurso de beleza, em que os dois candidatos tentam convencer o aparelho, militantes e simpatizantes que é ele, e não o outro, o mais capaz de nas legislativas dar a abada à Direita que Alegre pediu para as europeias e acabou por não se concretizar.
Para disfarçar, Seguro e Costa vão debitando ideias, propostas e projetos, que mais não são do que granadas de fumo que servem de camuflagem ao que se resume a uma luta sem cartel pelo poder entre dois políticos ambiciosos.
Os 80 compromissos de Seguro e a agenda para 10 anos de Costa não passam de papel de embrulho vistoso - e merecem tanta credibilidade como os desejos de paz no Mundo piedosamente formulados pelas candidatas a Miss Universo.
Aliás não deixa de ser curioso que o próximo round da luta pelo poder no PS seja amanhã numa Ermesinde celebrizada pelos Gato Fedorento como a terra das gajas mesmo, mesmo boas. Quem escolheu o local para a reunião da Comissão Nacional ou não viu o sketch até ao fim (Araújo Pereira confessa que a gaja boa que viu em Ermesinde afinal era um gajo) ou tem um apurado sentido de humor, pois há dois anos a Miss Canadá foi desclassificada do Concurso Miss Mundo por ter nascido homem. Dito por outras palavras, será que o concurso de beleza do PS vai acabar por ser resolvido na secretaria?
