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1 António Costa terá de superar, este fim de semana, o primeiro obstáculo rumo às eleições de 2015. O que era para ser um momento de coroação sem sobressaltos, transformou--se no "Congresso de Sócrates". A contenção que o líder do PS revelou e que pediu aos militantes foi estilhaçada pelo seu fundador e figura tutelar. E ainda que se relativize com a emoção do momento ou com a proverbial língua solta de Mário Soares, o mote deixou de ser o tão repetido (e preguiçoso) "à justiça o que é da justiça, à política o que é da política", para se destacar a ideia, mediática e perigosa, de que estamos perante um processo político. Também por isso todos os olhos e ouvidos estarão focados no "Congresso de Sócrates": tudo o que se vai dizer sobre Sócrates; tudo o que se vai calar sobre Sócrates; todos os "homens" de Sócrates que vão ocupar lugares no PS de Costa; todos os "homens" de Sócrates que serão obrigados a uma licença sabática. António Costa tentará seguramente marcar a agenda através das propostas concretas que até aqui evitou. Mas corre mesmo assim o risco de essa ser uma espécie de quadratura do círculo.
2 O Bloco de Esquerda também estará em foco este fim de semana. A Convenção não só não resolveu o problema de liderança como o agravou: aos dois líderes (João Semedo e Catarina Martins) juntou--se um terceiro líder virtual (Pedro Filipe Soares). Impõe-se as fações e seus líderes. Mais um sinal de desagregação, depois de inúmeras dissidências e do esboroar do suporte eleitoral. Ainda que o Bloco encontre um único líder, já lhe faltarão as forças e a autoridade. A federação de pequenos grupos de Esquerda só funcionou enquanto teve um líder carismático como Francisco Louçã e um dirigente apaziguador como Miguel Portas. O fim adivinha-se a passos largos.
3 Jerónimo de Sousa cumpre hoje 10 anos na liderança do PCP. Um operário ortodoxo, um indivíduo afável, capaz de promover uma renovação geracional. O PCP demonstra uma saúde de ferro. É um dos principais interessados no que se vai passar este fim de semana no PS e no BE. E não vai precisar de dizer nada para ser o principal beneficiado com o que aí vem.