A unanimidade é inimiga do progresso e, talvez por isso, Sérgio Conceição não consiga disfarçar o contentamento pelo jogo realizado em Paços de Ferreira e pelo momento que o F. C. Porto atravessa, sem de imediato apontar os problemas defensivos que o deixam insatisfeito.
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Mas a exuberância e a felicidade reinante são evidentes, visíveis na expressão futebolística dos jogadores, naquela que será a fase de futebol mais entusiasmante do consulado do treinador, agora que alcança a marca de 53 jogos consecutivos sem perder na Liga (igualando a fasquia de Bobby Robson, a apenas dois do recorde da invencibilidade interna dos 55 jogos da tripla Jesualdo Ferreira/André Villas-Boas/Vítor Pereira).
É marcante que mais uma plena exibição da complementaridade entre Taremi e Evanilson tenha sucedido, precisamente, no local do crime: a última derrota do F. C. Porto para a Liga acontece em Outubro de 2020, por 3-2 na Mata Real, num jogo horrível e desconexo. Ainda mais marcante é que a afirmação de Vitinha como comandante criativo cresça à medida da inexistência de um abre-latas.
Se antes, o F. C. Porto esticava o jogo para Marega, passou depois a fazê-lo para Luis Díaz, resolvendo na profundidade e na qualidade individual muitos dos problemas que os jogos lhe colocavam. É na ausência do colombiano que o jogo fino e recortado que já vinha a crescer na equipa se eleva, evidenciado o plano interior e a capacidade de equilíbrio e ruptura do futebol apoiado em passe curto de Vitinha e a visão de jogo e passe longo de Fábio Vieira, ainda que muitas vezes não o façam em simultâneo.
Essa é outra complementaridade a fazer crescer. É difícil assegurar onde reside o coração da máquina e sabe-se que não há órgão vital que resista a série súbita de resultados menos bons. Mas este é o momento em que o adepto desfruta e soma aos resultados a convicção de que a felicidade que se exibe pode ser trabalho e transpiração mas também inspiração e arte em movimento.
A subir
Quando pensamos apostar na dupla, jogamos na tripla. Não basta a complementaridade entre Taremi e Evanilson. Vitinha está no coração da máquina..
A descer
Conceição assinalou, e bem, alguma permeabilidade na equipa que não o deixa absolutamente descansado. A fiabilidade defensiva nas laterais é um problema.
(O autor escreve segundo a antiga ortografia)
*Adepto do F. C. Porto