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No que ao sistema bancário diz respeito só há um nível de confiança possível: 100%. Quando este fator está em causa assiste-se a um desmoronar da relação dos cidadãos com o sistema, que a partir daqui destrói toda uma estrutura na qual assenta grande parte da nossa vida no dia a dia.
A evolução meteórica das tecnologias de informação e comunicação alterou de forma vincada a relação entre a criação de riqueza e o seu alcance. Não passaram assim tantos anos para que não nos recordemos do que eram as filas em cada agência bancária, fosse para depositar, levantar dinheiro, ou outro tipo de operações correntes. Hoje temos uma espécie de agência bancária na casa, no computador, ou mesmo no telemóvel de cada um de nós. O sistema financeiro entranhou-se no quotidiano das nossas vidas, interagindo diretamente com o que definem como potencial de riqueza da sociedade.
Tenho por isso que o maior dano causado pela situação vergonhosa a que se assistiu no BPN foi ter colocado este pilar da confiança em causa, algo que estava há muitos anos bem enraizado no país. A partir daí foi a sucessão de acontecimentos inconcebíveis de que fomos e vamos tomando conhecimento e que colocam a credibilidade do setor próxima do grau zero. Isto é grave e está muito longe de ser culpa de uma pessoa que tenho como séria e competente. Que, recorde-se, no momento da sua entrada em funções em 2010 alertou então para o potencial gigantesco de imparidades que poderiam existir no sistema financeiro. Que tentou até ao limite isolar e proteger um dos maiores bancos portugueses da promiscuidade com o mundo empresarial dos seus principais acionistas. Não fosse isso e provavelmente o volume e quantidade de lesados do BES com aplicações na ES Liquidez teria atingido proporções dramáticas. É hoje fácil dissertar sobre o que poderia ter feito, em especial na base especulativa de um estudo de um concorrente desavindo e magoado por um casamento anunciado e desfeito à porta da igreja. Provavelmente uma decisão precipitada poderia ter-nos levado a uma gigantesca ação de indemnização, pela qual seria também hoje culpado.
Acusar o atual governador do banco de Portugal de ser o responsável disto tudo, quando sabemos e conhecemos a manta de retalhos que ele herdou, não me parece correto nem prudente. Por mim que continue a tomar conta do castelo!
PROFESSOR CATEDRÁTICO DA U. PORTO