"Coligação social importante". A definição (excelente) é rubricada pelo primeiro-ministro e é parte integrante de um "mix" de pensamento: a assinatura, por um lado, do protocolo através do qual anteontem as Instituições Particulares de Solidariedade Social reforçaram o seu importantíssimo papel-rede num país cujas valências de pobreza se agravam todos os dias e, por outro, o estabelecimento de um acordo laboral tripartido, firmado nas últimas horas, em sede de Concertação Social.
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Os esforços na tentativa de retirar o país do atoleiro em que se afundou estarão, de facto, tanto mais perto de surtir efeito quanto for possível levar a convergência de boa vontade para lá das sedes partidárias alimentadoras do actual poder - e em certa medida do Partido Socialista, de discurso "flutuante" mas amarrado ao passado recente de pré-falência nacional e condução e assinatura do memorando de entendimento que baliza por esta altura a vida nacional. Uma parte dos problemas são passíveis de resolução por decreto, mas outra, a mais decisiva, passa pela mobilização dos variados alvéolos da sociedade civil, sejam eles formados por empresários, trabalhadores, ou, até, esquemas de voluntariado.
Os sinais revelados justificam o agradecimento de Passos Coelho a todos os "que saem da sua zona de conforto" e "da sua postura reivindicativa tradicional". Ora aí está: a cooperação e boa-vontade existe - seja a decorrente de um reforço do apoio às IPSS no seu inigualável papel de substituição do Estado no apoio aos mais desfavorecidos, seja pela abdicação de algum olhar para o próprio umbigo do patronato e da UGT ao ponto de coincidirem no acordo de Concertação Social rubricado ontem. Sim, a CGTP, a principal central sindical, não obedeceu ao cumprimento das linhas gerais impostas pela troika, mas notícia seria o contrário atendendo ao seu histórico comportamento do contra.
O universo colaborante - no qual o Governo teve o mérito de arrepiar caminho, ouvindo inclusive os apelos do presidente da República - justifica, pois, a "coligação social importante". Tem um significado superlativo como método de atenuar as possíveis ondas telúricas provocadas por manifestações (legítimas) de descontentamento, geradas a partir de movimentos não balizados mas prejudiciais à tentativa de estabilização e retoma económica.
A vertente positiva desta semana, não obstante a perda de alguns direitos dos trabalhadores, enganadoramente dados por adquiridos nos últimos anos, funda entretanto uma valência indispensável para uma rota de presumível sucesso: a manutenção de uma imagem de credibilidade dos governantes. E ela, a credibilidade, passa pela coincidência de discurso e prática em áreas sensíveis - a começar pela coerência e as boas explicações sobre nomeações no aparelho de Estado, algo que, como é público e notório, gerou já abalos e desconfiança.
Em linguagem futebolística: a bola está, agora, do lado do Governo. Ou a conduz de modo irrepreensível no projecto de drible da crise ou acaba destrambelhado na ânsia de a ultrapassar. Toda e qualquer (nova) batota servirá para deitar a perder a confiança que lhe depositaram alguns milhões de portugueses.