A sociedade caminha a passos de gigante para uma situação em que, literalmente, o criador se prepara para matar a criatura. São evidentes as virtualidades e as enormes vantagens da inteligência artificial para a nossa vida. No limite, deveria libertar o homem. Isso seria no Mundo perfeito, a que todos aspiramos, mas também sabemos não estar ao nosso alcance.
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A tecnologia colocada ao serviço das pessoas, é evidente, pode ajudar a enfrentar os maiores desafios. E tal acontece, em inúmeras situações, como na Saúde e na Segurança. E o contrário, também. Uma reportagem, na edição de fim de semana do jornal "El País", mostra o efeito devastador que a tecnologia, colocada ao serviço do ódio e usada como arma, tem nas mulheres: a sua imagem, por exemplo, pode ser usada em vídeos de pornografia na Internet. São elas, porque a tecnologia consegue de forma hiper-realista reproduzir a sua imagem; e não são elas, porque tudo é falso. Os resultados, como é fácil de ver, são monstruosos.
Ainda recentemente, o alto-comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos alertou para a séria ameaça à dignidade humana e aos direitos humanos provinda das diversas potencialidades da inteligência artificial.
Embora cerca de 90% dos vídeos hiper-realistas, na Internet, sejam referentes a pornografia não consentida, há uma outra franja que, sem desvalorizar o impacto no domínio privado, ameaça a vida pública. A ONU alerta para isso mesmo. A democracia está em causa: se se falsificam perfis de mulheres, de igual modo se criam perfis falsos de candidatos, de forma tão realista, que não dá margem para qualquer dúvida a quem os vê. Urge regulamentar esta nova realidade, sob pena de o criador destruir a criatura.
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