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1. Há momentos assim: o que conta é que é preciso apresentar um PEC a Bruxelas. Ou melhor, às agências de rating, antes que estas nos cobrem com juros. Temos então um Programa de Estabilidade e Crescimento que quase todos consideram imprescindível, mas que quase todos renegam. Desde logo, a parte esquerda do PS, a que criou o rendimento mínimo garantido, que vem lembrar que os benefícios sociais não são esmolas. Temos depois os partidos mais pequenos, que se opõem por convicção ou por táctica, mas sem peso ou sem vontade de fazer valer a sua posição. E, finalmente, o PSD, que deixou "passar" este PEC, mas que pelos vistos não o quer, assumindo uma postura do tipo maria-vai-com-as outras. Um caldo interessante quando nos lembramos que o PEC é apenas uma carta de intenções. Vamos ver quem estará disponível para aplicar as medidas que ele prevê quando chegar a hora da verdade, que é como quem diz quando se aproximar a hora de voltarmos a eleições.
2. Rui Pereira é um ministro extraordinário. Ano após ano, estatística após estatística, vislumbra sempre uma melhoria por entre a vaga de criminalidade que atormenta o resto dos portugueses. Há cerca de um ano, perante a subida galopante da criminalidade violenta registada em 2008, argumentou que os números seriam melhores em 2009. Um ano depois, apresenta a fabulosa queda de 0,6% na tal criminalidade violenta. Que interessa que nos distritos do Porto e de Viseu o crime esteja em crescendo? Porquê destacar o facto de a criminalidade juvenil registar uma escalada de 10%? Acaso isso será um sinal de um futuro cada vez mais violento? Quem se incomodaria com o facto do número de processos por crimes sexuais crescer 12%? Um destes dias contribuí, enquanto vítima, para engordar as estatísticas de assaltos a garagens. E fiquei esclarecido quanto ao que se pode esperar: o agente tratou logo de explicar que não vale a pena contar com a Polícia. Na zona que ele tem de patrulhar moram muitas dezenas de milhares de pessoas, mas há apenas um carro-patrulha para fazer a ronda nocturna. E pelo que percebi, está quase sempre ocupado a registar ocorrências, não a evitar que elas aconteçam.
3. A semana ficou marcada por mais um capítulo do túnel da Luz. Os argumentos dividiram-se entre portistas, que viram na reviravolta disciplinar a prova de que, na Liga, foi montado um esquema para impedir o pentacampeonato; e entre benfiquistas, que imaginam um polvo portista ainda activo na Federação. O que distingue os benfiquistas da Liga dos portistas da Federação é a qualificação dos stewards (seguranças): os primeiros acham que são agentes desportivos, os segundos acham que não. E dar umas pancadas num desses senhores é mais ou menos grave, consoante sejam ou não agentes desportivos. Não deveria chegar saber-se que é uma pessoa?