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De Sintra, nem boas notícias nem qualquer sinal de alívio. Aproveitando a sua passagem por Portugal, a presidente do Banco Central Europeu (BCE) disse que a natureza da inflação na Zona Euro está a mudar e é improvável que, no futuro próximo, o banco central possa declarar que as taxas diretoras máximas foram atingidas. Dito de outro modo, Christine Lagarde teme que um travão demasiado precoce às subidas dos juros acabe por destruir todos os ganhos em termos de controlo dos preços.
Se em termos ideais a inflação deve estar em torno dos 2%, valor que ainda constitui um dogma para os banqueiros centrais, a verdade é que essa meta está longe de ser alcançada. O nível de preços em Portugal é exatamente o dobro do pretendido. Ou seja, o aperto financeiro das famílias ainda não terminou, afetando sobretudo a classe média.
Um estudo relativo ao período 2021-2023, integrado no Boletim Económico do Banco de Portugal, deu alguma esperança a quem se encontra financeiramente estrangulado. “As famílias terão capacidade de pagar o serviço da dívida [prestações do crédito à habitação] e manter um nível de consumo de bens alimentares e energéticos idêntico ao de 2021, sem pôr em causa outro tipo de despesas”, refere a publicação. Os autores lembram que a subida dos preços e das taxas de juro tem sido acompanhada por um aumento do rendimento das famílias, que beneficiou do dinamismo no mercado de trabalho e das medidas de apoio ao rendimento dos mais vulneráveis.
Em termos concretos, o caso afigura-se mais difícil de gerir. Se a taxa de juro diretora do BCE subir de 4% para 5,25%, o nível a que está este referencial nos EUA, isso significará mais umas dezenas de euros de acréscimo nas prestações. E os devedores que não cumprem os critérios para renegociar o crédito são os da classe média-média e média-alta. Mesmo excluindo estes últimos, que têm alguma resiliência, são muitas as famílias que estão em dificuldades.
*Editor-executivo-adjunto