Um passo de cada vez em direção à guerra, Putin cumpre o seu guião. Primeiro, foi o reconhecimento da independência das regiões separatistas no Leste da Ucrânia.
Corpo do artigo
Depois, o pedido de autorização à Duma (Parlamento) para o envio de tropas para o estrangeiro. Finalmente, o esclarecimento de que não será suficiente defender a atua linha de fronteira de Donetsk e Lugansk, o objetivo é controlar a totalidade do território das duas províncias. À hora que escrevo, não era ainda claro se as tropas russas já tinham entrado na Ucrânia. Um formalismo importante, porque essa será a diferença entre anunciar uma invasão e concretizá-la, passar da retórica aos atos de agressão, dar início a uma guerra.
O guião não tem nada de novo. Recorde-se um momentos semelhante, na Geórgia, em 2008. Também no Cáucaso as tropas russas invadiram um país independente, para depois se fixarem dentro das fronteiras de províncias rebeldes. Também elas (a Ossétia do Sul e a Abkházia) declararam uma independência que só os russos reconhecem. Também elas dependem da ajuda financeira russa e dos seus passaportes para garantir uma espécie de cidadania.
Putin gosta de citar a História, num tom de quem dá lições aos ignorantes ocidentais. É bem provável que conheça melhor a História (essa disciplina maldita para velhas e novas gerações) do que muitos dos nossos líderes políticos. Mas um líder culto não deixa por isso de ser um déspota. Putin sonha com a recuperação de territórios perdidos há muito e não o disfarça. Talvez sonhe em recuperar também o título de Pedro, o Grande: czar de todas as Rússias. Já tinha a possibilidade ilegal de se eternizar no poder, como qualquer czar que se preze. Sucede que já não estamos no início do século XVIII. O homem ou é um mitómano ou é um louco. Seja como for, é perigoso.
*Diretor-adjunto