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Fosse eu eleitor do Porto e, ouvindo e vendo o que ouvi e vi no debate realizado, anteontem, pelo Porto Canal, com a presença de todos os candidatos à Câmara, ficaria seriamente preocupado. Longas duas horas e meia de conversa não bastaram para que se decretasse que este foi melhor do que aquele, ou que as ideias deste são melhores do que as daquele.
O debate (talvez por causa do modelo utilizado - oito candidatos é uma multidão! -, talvez pela sossegada condução dos trabalhos) foi morno, genericamente desinteressante e até contraditório: porventura, nunca o Porto teve um leque tão bom de candidatos à Câmara, mas o debate pouco ganhou com esse facto. Por isso, quem esperou pela "peleja" televisiva para tirar dúvidas e definir o sentido de voto terá de optar por outros critérios de decisão.
O debate era sobretudo importante para Manuel Pizarro. Ensanduichado entre Menezes e Rui Moreira, o candidato do PS tinha ali a oportunidade para deles se diferenciar. Em certo sentido, cabia-lhe a ele liderar o combate, de modo a partir a bipolarização Menezes-Moreira que as sondagens mostram. E, na verdade, Pizarro fez pela vida, sobretudo na primeira parte do encontro. Não creio, contudo, que do esforço tenha resultado um sopro na alma dos portuenses. Vale o mesmo dizer que Pizarro tem 15 dias para evitar um resultado que pode ser desastroso para os socialistas. As facas começam a afiar-se...
Menezes e Rui Moreira fizeram os mínimos, porque não estavam interessados em fazer os máximos. Pareceram ambos pouco vitaminados, excessivamente tensos até. A verdade é que nenhum deles estava interessado em provocar o outro em demasia, sob pena de o debate escorregar para o perigoso patamar em que os ódios cordiais acabam por transformar-se em ataques vitais. Ora, isso iria em sentido oposto ao que Moreira tem seguido, por um lado, e, por outro, não interessaria a Menezes, que aparece nestas eleições com a capa do senador de que o Norte precisa.
Por falar em Norte: abordou-se pouco a região. Os principais candidatos, mergulhados nas propostas já mil vezes repetidas, passaram quase ao lado do debate sobre a importância do Porto no conjunto da Região Norte, do modelo que é preciso construir, juntando as principais cidades nortenhas na defesa dos interesses regionais. Não basta levantar as vuvuzelas e atirar palavras e sons contra o centralismo. A experiência passada mostra quanto custam as distrações. E a experiência presente (os novos fundos comunitários estão aí) não pode replicar os erros políticos que nos transformaram na paisagem.
Uma última palavra para a excelente prestação de Pedro Carvalho, o candidato da CDU (dá, seguramente, um excelente vereador). E para a, como dizer?, lunática presença de Nuno Cardoso...