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Esta foi a semana do único debate televisivo previsto entre os dois candidatos a primeiro-ministro. Anunciado como histórico e decisivo, não resisti à pressão que os média colocaram sobre o evento e, tal como muitos milhares de portugueses, acompanhei-o atentamente. Mais que o debate de problemas e propostas de solução, o que esteve verdadeiramente em causa foi a personalidade dos dois candidatos, a sua capacidade de comunicação, a habilidade política de argumentação, o ânimo que os move. Passos apresentou-se como um primeiro-ministro resignado candidato a continuar no cargo. Por isso procurou justificar a política do seu Governo nos últimos quatro anos e tentou, com um arrazoado incompreensível de números, convencer-nos que o país está hoje melhor. Defendeu que o excesso de austeridade foi redentor. Que o retrocesso económico e social registado foi necessário para salvar o país de uma crise financeira que, há que o recordar, ele próprio agravou e precipitou ao provocar uma crise política em março de 2011. Considera que os frutos da sua política começam agora a aparecer. Não tem um programa de governo, quer apenas receber um prémio.
Costa, por seu lado, vincou as consequências mais negativas da governação: o desemprego, a redução da produção e o aumento da pobreza. A sua prioridade é ultrapassar estes problemas. As exportações serão importantes para o crescimento, mas não podem assentar no empobrecimento do país. Daí a sua defesa das políticas sociais públicas e de uma política mais focada na melhoria do crescimento através do consumo e do investimento. Passos tenta assustar os eleitores alegando que isto é um regresso ao fontismo de Sócrates. Mais uma vez ignora que foi Cavaco que enraizou, nos anos 80, esse modelo de crescimento assente em grandes investimentos públicos financiados pela Europa. Costa conseguiu demarcar-se e afastar os invocados fantasmas do passado. Confrontando Passos Coelho com as suas promessas eleitorais de há quatro anos, Costa apostou na sua imagem de político credível: cumpre o que promete e não promete se tem dúvidas em poder cumprir.
Costa não é Sócrates, nem Portugal e a Europa são hoje o que eram há 10 anos. Mas a Europa esteve ausente deste debate. Foi pena. É por estarmos na UE que não devemos temer fantasmas. É por estarmos na UE que será possível equacionar políticas de crescimento sem correr o risco de gerar uma nova crise de finanças públicas.
Face ao bom desempenho de Costa, o debate terá sido histórico para uns. Para outros foi apenas mais um debate. Importa saber qual o juízo daqueles que vão decidir as eleições: os indecisos.