A criação de uma Liga das Cidades, "que vá do Porto a Bragança, passando, entre outras, por Viana do Castelo, por Braga e Guimarães, por Chaves e Vila Real, num traço contínuo" que una o Norte é um dos desejos do novo presidente da Câmara do Porto. Na tomada de posse, Rui Moreira explicou que só assim "a Região Norte, que indiscutivelmente partilha interesses, problemas e um destino comum, poderá ter hipótese de reivindicar com eficiência e de forma consistente aqueles que são os seus direitos e aspirações legítimas". Neste ponto, é impossível estar em desacordo com Moreira.
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Pois aí está o primeiro grande desafio à Liga das Cidades, que, não existindo no papel, pode muito bem começar a forjar-se a partir do combate que tem pela frente. O facto de a peleja tocar a Região Centro torna o tema ainda mais atrativo.
Resumidamente, a matéria é esta: o Governo criou um grupo de trabalho para estudar que grandes projetos na área da mobilidade (portos, ferrovias, rodovias, aeroportos) devem ser abraçados nos próximos anos. Deste grupo não fazem parte as comissões de coordenação regional, por acaso as entidades que mais e melhor conhecimento e ligações têm ao território.
A explicação para esta ausência é muito simples: o que está em cima da mesa é a discussão sobre a distribuição dos milhões e milhões de euros de fundos comunitários que o país vai receber nos próximos anos, pelo que não dá jeito ter cadeiras para sentar os chatos que querem ir ao bolo cortar uma fatia para as regiões longe da capital.
Descontentes, as comissões de coordenação e as associações empresariais do Norte e Centro uniram-se e elaboraram um documento para entrar na discussão. Bastou, contudo, um telefonema de um governante a mandar parar o baile para que os comissões baixassem a crista, para dizer o mínimo. Quem pensou que, dobrando agora a espinha, dava um passo atrás para a seguir dar dois em frente, à moda de Lenine, enganou-se redondamente. É verdade que os presidentes das comissões regionais são indicados pelo Governo. Mas, uma de duas: ou se sentem capazes de defender os interesses do território em que trabalham - e aí batem o pé, independentemente das consequências; ou vergam ao primeiro ralhete - e aí perdem a face perante os atores do território, restando-lhes uma saída honrada e honrosa do cargo.
O Governo faz aqui o papel de Kit Carson, o temível caçador que, a mando do exército dos EUA, quis exterminar os índios Navajos. Já que os líderes das comissões regionais se escondem atrás das árvores à espera que Kit não os veja, cabe aos municípios do Norte e Centro (à proto Liga das Cidades) recorrer ao lema que serviu de escudo aos Navajos: se avançarmos, lutamos; se recuarmos, morremos. A tribo sabia que não tinha outra hipótese senão batalhar. Era uma questão de vida ou morte. Sobreviveu.