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Aos poucos, as dioceses que em Portugal aguardam a nomeação de um novo bispo vão sendo preenchidas. No mês passado tomou posse o novo bispo do Porto, D. Manuel Linda. Na semana passada foi nomeado um sacerdote da Guarda, António Luciano Costa, que irá suceder a D. Ilídio Leandro, na diocese de Viseu, que renunciou por motivo de saúde. Ao longo deste ano esperam-se ainda as nomeações de mais alguns bispos, nomeadamente para as dioceses de Évora, Funchal e Vila Real, bem como de bispos auxiliares para o Porto e Lisboa.
O Papa Francisco tem deixado diversas indicações que são pertinentes para os novos e para os antigos bispos. E também para todos os sacerdotes que com eles colaboram no pastoreio das comunidades cristãs.
Francisco já disse que os bispos têm de viver no meio do rebanho e adquirir o "cheiro das ovelhas". Que não se pode estar numa diocese a olhar para a vizinha, que se considera mais importante e relevante, numa lógica de carreira ou de promoção pessoal. Alertou também que os pastores têm tanto de resistir à tentação de "mudar de povo" como à de "mudar o povo". E pediu aos bispos que demonstrem uma grande disponibilidade para receber, acolher, escutar e guiar os sacerdotes das suas dioceses.
Nesta sexta-feira, na homilia da missa em S. Marta, pediu aos bispos que vigiassem e protegessem os fiéis dos "lobos" que não vêm de fora, mas que estão dentro da Igreja e que são os que se apresentam como "os ortodoxos da verdadeira doutrina". O Papa inspirou-se na passagem dos Atos dos Apóstolos, em que Paulo e Barnabé são enviados aos cristãos de Antioquia, vindos do paganismo, para corrigir as imposições daqueles que queriam que se mantivessem todos os costumes judaicos, exigindo-lhes práticas desadequadas à fé cristã (Cf. Act. 15, 22-34).
A convicção do Papa é que hoje se repetem os mesmos perigos, pelo que é necessária a vigilância dos bispos, sucessores dos Apóstolos, para confirmarem os fiéis na verdadeira fé, ou seja, aquela que está de acordo com o Evangelho. É que, para ser fiel às palavras de Cristo, é necessário muitas vezes abandonar costumes e tradições, anacrónicas, que alguns teimam em continuar a impor.
O Papa Francisco pensa que ser vigilante ou sentinela é uma bela definição da vocação de um bispo. Para o Papa, vigiar "significa envolver-se na vida do rebanho: Jesus distingue bem o verdadeiro pastor do empregado, daquele que recebe um salário e não se importa se o lobo vem e come uma ovelha: ele não se importa. Pelo contrário, o verdadeiro pastor que vigia, que está envolvido na vida do rebanho, defende não só todas [as ovelhas], defende cada uma, confirma cada uma e se uma vai embora ou se perde, ele vai atrás para trazê-la de volta. Está tão envolvido que não deixa que nenhuma se perca".
O Papa disse ainda aos bispos que "o povo de Deus sabe bem quando o pastor é pastor, quando o pastor é próximo, quando o pastor sabe vigiar e dá a própria vida por eles".
Se os bispos souberem escutar, acolher e pôr em prática as palavras do Papa no exercício do seu ministério episcopal, não terão dificuldade em implicar os sacerdotes das suas dioceses no pastoreio do seu povo. E os fiéis não serão importunados com práticas desajustadas.
PADRE