O primeiro caso do coronavírus terá sido registado a 8 de dezembro de 2019 em Wuhan, mas a China só notificou a Organização Mundial de Saúde no final do mês.
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Nesse tempo, a informação esteve sob controlo das fontes oficiais. A partir de 20 de janeiro, depois de um conhecido médico chinês ter assegurado que a transmissão por contágio humano estava provada, tudo se precipita. O presidente Chinês reconhece a gravidade da situação e os média internacionais ampliam o alarme à escala global.
Quando a saúde pública está em causa, a respetiva mediatização tem um impacto colossal, adensando medos e multiplicando inquietação social. No entanto, o silêncio também provoca efeitos nefastos na prevenção de novos casos e na manutenção da tranquilidade coletiva. É, pois, importante encontrar um equilíbrio. No que diz respeito ao coronavírus, as estratégias de comunicação têm sido desastrosas. Mais uma vez.
Num regime autoritário, é natural o controlo apertado da informação, mas, quando a saúde pública está em risco, seria necessário distinguir o que é para silenciar daquilo que se torna imprescindível partilhar. Em Wuhan, ninguém foi capaz de aprender com os erros grosseiros cometidos na cobertura da síndrome respiratória aguda grave (SARS), detetada em finais de 2002, na China. Numa primeira fase, as autoridades oficiais foram dando a informação que entendiam e manietando aqueles que partilhavam dados através das redes sociais, chegando mesmo a deter algumas pessoas por difundirem aquilo que se consideravam rumores. A 20 de dezembro, o conhecido pneumologista Zhong Nanshan, que esteve na linha da frente do combate à SARS, veio pôr o dedo na ferida, declarando que o caso merecia outra atenção. Xi Jinping reagiu de imediato, reconhecendo a gravidade dos acontecimentos. Desde aí, o regime político tem corrido atrás do prejuízo numa tentativa de criar a ideia de um país preocupado com a saúde pública e empenhado na partilha de informação.
Com o caso a alastrar a outros territórios, o coronavírus já conquistou o topo dos alinhamentos dos média internacionais, nomeadamente em território europeu. Todavia, é preciso travar o clima de alarme. Por enquanto, a estimativa de morte é inferior a 3 por cento e os doentes registados fora da China são em número reduzido. Não há (ainda) razões para uma histeria coletiva. Que tem sempre um impacto enorme na vida das pessoas, com fortes prejuízos nas economias nacionais, embora com retornos frequentemente muito positivos para a indústria farmacêutica...
*Prof. Associada com Agregação na UMinho