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O aumento de 130% nas vagas sobrantes para a segunda fase de acesso ao Ensino Superior mostra que o modelo atual precisa de ser revisto. Como o processo da entrada no mais eficaz elevador social das sociedades modernas ainda vai a meio, talvez seja prematuro retirar conclusões, embora restem poucas dúvidas que estamos perante um quadro preocupante, na perspetiva da sustentabilidade das instituições de ensino e do país, no fundo. Mas o facto de o número de candidatos ter sofrido um decréscimo superior a 10% em relação ao ano passado denuncia que estamos a caminhar no sentido oposto ao que devíamos. A mudança nas regras de acesso, mais apertadas, estão longe de explicar tudo. É impossível encontrar, no imediato, respostas definitivas, mas seria bom não ficarmos de braços cruzados. Por que razão estão os jovens a optar por outras vias para assegurarem um futuro melhor? Certamente porque encontram dificuldades. Desde logo no acesso à habitação. Em Portugal, há cerca de 15 mil camas nas instituições para quase 120 mil universitários deslocados, pelo que, atendendo aos preços praticados, estudar longe de casa transformou-se num luxo. Haverá também razões demográficas, mas parece-me que devemos considerar a possibilidade de muitos estudantes que terminam o Secundário optarem por tentar acesso imediato ao mercado de trabalho, porque não haverá frustração maior do que a de frequentar a universidade durante três ou quatro anos para, com o canudo na mão, ganhar o salário mínimo ou pouco mais do que isso. Assim acontece com milhares de jovens, tantos com expectativas frustradas, formados e obrigados a trabalhar nos antípodas da licenciatura concluída para terem vencimento digno ao final do mês, penhorando a realização pessoal e o futuro. Deles e do país.