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1.Escreviam ontem os jornais que Paulo Portas devotou os últimos dias a encontrar um espaço que correspondesse à dignidade dos seus novos cargos. Notícias que dizem tudo sobre o estado a que chegou o Governo: Passos Coelho não é o único em estado de negação. Ao homem que à honra de ser vice-primeiro ministro iria juntar o lustro da coordenação económica, da reforma do Estado e das negociações com a troika - pastas que receberia, segundo o próprio, em troca da sua reputação -, custa reconhecer que o sonho se desvanece e que não passa de um ministro demissionário e descartável. Portas antecipa até uma vitória sobre a temível moção de censura dos Verdes, cuja provará a solidez de um Governo... que já não existe. Um delírio parecido com o de Passos, quando garante, no calor do debate, que cumprirá o mandato até ao fim. Contra tudo e contra todos, incluindo Cavaco Silva que, salvo erro e melhor opinião, já anunciou eleições antecipadas para junho de 2014.
2.Se o debate de ontem tivesse sido sobre o estado a que o Governo fez chegar a nação, o resultado teria sido menos divertido. A depressão, o empobrecimento e o medo do futuro não são boa matéria para piadas. Meia dúzia de indicadores macroeconómicos seriam suficientes para perceber o desespero da nação: quando este Governo assumiu o poder, em junho de 2011, a riqueza do país (PIB) estava a cair 0,9%, hoje está a cair 4%; quando Passos e Portas iniciaram a caminhada, a taxa de desemprego era de 12,1% (675 mil pessoas), hoje é de 17,6% (932 mil pessoas); a dívida pública correspondia a 107% do PIB, hoje está nos 127% do PIB; o défice chegava quase aos 9%, agora está nos 10,6%. Resumindo: depois de sacrifícios inauditos, que incluíram cortes nos salários e nas pensões e um aumento brutal de impostos, estamos mais pobres, desempregados, mais endividados e ainda com a despesa pública descontrolada.
3.Numa democracia, quando o poder político perde a autoridade e a credibilidade, só há um caminho. Para citar Seguro, quando um país já não se basta a si próprio, o problema só se resolve com a força política que advém de um novo governo, com mandato claro e legitimidade própria. Isso só é possível, acrescenta o líder do PS, através da vontade do povo e quando o povo se pronuncia. A questão não é portanto se deve haver eleições antecipadas. A questão "é se o país pode dar-se ao luxo de esperar mais 12 meses para devolver a palavra ao povo.