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Os políticos não aprendem e parecem pouco preocupados com isso. Com António Costa ainda na liderança do Governo, há dois anos, Luís Montenegro usava as mesmas armas que o atacam agora, por causa do descontrolo no combate aos incêndios. Depois das críticas por estar a festejar sabe-se lá o quê no Pontal enquanto o país ardia, o primeiro-ministro deu a mão à palmatória, avançou com um pedido de ajuda internacional e interrompeu as férias para se juntar ao rescaldo da vaga de ataques políticos que o visaram nos últimos dias. Sem surpresa, o mais fofinho foi mesmo o do Chega. Fosse o Governo de Esquerda e André Ventura teria sido bem mais duro, mas está visto que as famosas linhas vermelhas já não o queimam. As chamas continuam a lavrar, pelo que ainda não é tempo de balanços. Mas há conclusões à vista de todos. Sociais-democratas e socialistas não conseguiram resolver o grave problema de ordenamento florestal que há décadas traça o destino de um Interior cada vez mais desertificado. De férias numa aldeia transmontana, procurei perceber há quantos anos não nascia uma criança nestas paragens, e a resposta foi "meia dúzia". Os poucos sorrisos adolescentes pertencem aos filhos de quatro casais imigrantes, que no último ano se fixaram na povoação. Sem gente, tudo fica mais difícil. Este é o resultado de um Portugal cada vez mais centralista, culpa de sucessivos governos pouco preocupados em fazer cumprir a Constituição, que na sua redação prevê regiões. Nem os socialistas - que agora saúdam uma decisão do Tribunal Constitucional precisamente em defesa dos direitos dos estrangeiros -, tiveram a coragem e a visão estratégica para perceber que só a descentralização das decisões poderá curar as feridas que o poder central umbiguista abriu no paraíso de Torga.