O erro crasso cometido pelo PSD foi o de ter cedido na cláusula de salvaguarda para ter um texto único aprovado na comissão. Avocar essa alínea para votação em plenário era o único caminho possível. Mas o mal estava feito. Dar pretexto para um golpe palaciano, numa corte que morre de tédio sempre que o nível de polémica baixa de intensidade, serviu para reconciliar a generalidade dos analistas com um PS que eles próprios diziam estar moribundo na campanha das europeias.
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Bastou a ameaça de demissão do Governo! "Jogada de mestre"; "profissionalão"; "genial"; "soberbo", não faltaram elogios à dramatização imposta por António Costa, havendo pouco quem tivesse valorizado a garantia dada por Rui Rio, logo na sexta-feira: "O que será aprovado com os votos do PSD de certeza absoluta que cumpre aquilo que eu sempre disse e não tem nenhum impacto orçamental para lá do que sejam as capacidades orçamentais do país".
Espantam-me tanto os erros de análise de políticos com a experiência de Rio, julgando que não tem de explicar tudo direitinho antes de aprovar o que quer que seja, como me espanta o deslumbre com que a coisa mediática reage às jogadas que potenciam a manutenção no poder de um político, mais ainda quando a sua ação sugere falsamente a vontade de sair.
Se a lei aprovada, sem impacto financeiro significativo nesta governação, seria razão para demissão, como poderiam os mesmos governar na próxima legislatura, em que se faria sentir esse impacto? Diminuir drasticamente a viabilidade de uma solução governativa não preocupa a corte. O caos e a polémica são os seus alimentos preferidos.
Há precisamente um ano (15.05.2018) escrevi um texto aqui no JN refletindo sobre duas entrevistas no mesmo fim de semana, António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa, para concluir que o povo português tinha ficado a saber que "era mais importante ter um Orçamento do Estado aprovado do que evitar que os fogos de verão voltem a matar gente". Basta ler essas duas entrevistas para confirmar que "não é demagogia do cronista, é uma conta simples, de dois mais dois, que nos dá este resultado".
* JORNALISTA