Desde o discurso da "tanga" até agora, Portugal está a braços com o cumprimento das suas obrigações internacionais. E será assim, com muito pouca margem de manobra, durante muito tempo, até a nossa dívida externa baixar substancialmente.
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Veio a crise de um Estado maior do que o orçamento disponível, a violenta crise internacional e instalou-se a "realpolitik".
Neste contexto, não faz muita diferença quem nos governa. Temos assim de garantir que pomos uns cobres de lado para pagar o que devemos.
E talvez por este estado de coisas se manter há muito tempo, reconfigurou-se este ano, 46 anos depois do 25 de Abril, o nosso espetro político abrindo-se portas a experiências partidárias mais "especializadas". Havia os Verdes e agora também há o PAN, havia o BE e agora também há o Livre e havia o CDS e agora também há a IL e o Chega.
Acontece que o CDS é o único que se arrisca a deixar de ser senhorio do seu espaço ideológico original. O PAN não teve de desalojar os Verdes porque os Verdes coabitam com o PCP. E o Livre não teve de desalojar o BE porque o BE foi visitar o PS. A casa está temporariamente disponível. Mas o Livre, na verdade, tem ficado à porta. O Chega e a Iniciativa Liberal é que não hesitaram. Atacaram o T1 do CDS e ensaiam-se para lhe roubar o quarto.
Os discursos que ouvimos neste Congresso do CDS não trouxeram nada de novo. Antes, demonstraram à exaustão que os partidos historicamente mais votados andam todos a dizer o mesmo. Contas certas, melhor saúde, mais segurança e mais empresas. Grosso modo.
Claro que face ao PS e ao PSD, a voz do CDS não se ouve. Ao contrário, a gritaria do Chega começa a fazer alguma mossa. O CDS tem um candidato à Presidência (que pode ou não ser Marcelo). Se André Ventura for candidato, qual é o candidato da Direita? Sobretudo se Marcelo reincidir.
O CDS está em processo de despejo. Tem que perceber isso e tem de fazer a vida difícil aos novos ocupantes da sala comum. A não ser assim, é despejado e fica sem abrigo.
*Analista financeira