As eleições autárquicas estão aí. Dentro de menos de um mês os cidadãos eleitores terão escolhido a equipa que comandará os destinos do Porto para os próximos quatro anos. Muitas e bem diversas são as opções e propostas dos diferentes candidatos para o futuro, num tempo que é marcado pela incerteza, pelo desemprego e pelo aumento da pobreza. Mas num ponto todos estão de acordo - na necessidade de mudar o relacionamento dos eleitos locais com as mais significativas instituições da cidade e, sobretudo, com as desportivas.
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Não há, seguramente, nenhum ponto tão consensual. A indiferença com que os sucessos desportivos foram encarados nestes últimos anos pelo município mereceu já dos candidatos uma tomada de posição clara no sentido de a alterar. O que é, assuma-se, uma evidente condenação da conduta seguida até aqui. O que está em causa não é a concessão de apoios materiais, como muitas vezes erradamente se fez crer, mas antes o reconhecimento da cidade pelo trabalho desenvolvido, o estímulo para continuar a lutar pelo sucesso, expresso na solidariedade e congratulação manifestada pelos legítimos representantes dos cidadãos.
As cidades disputam entre si um espaço de afirmação internacional cada vez mais competitivo, onde é difícil conseguir a notoriedade que faz a diferença com as esperadas contrapartidas económicas que normalmente daí advêm. Na ciência, nas artes, no património, no desporto, todos procuram encontrar as suas "marcas" distintivas. E a cidade do Porto não tem sido exceção.
Há, contudo, uma área onde esta notoriedade tem superado todas as expectativas - o desporto, sobretudo na mais popular das suas modalidades que é o futebol. Dando-se a feliz coincidência de o nome do clube que protagoniza todo este sucesso se confundir com o da cidade que o fez nascer, a marca Porto ganha aqui uma força redobrada.
Se olharmos apenas para os últimos doze anos, o Futebol Clube do Porto conseguiu um conjunto de títulos notável, mesmo a nível internacional. Uma Taça Intercontinental, uma Liga dos Campeões, uma Taça UEFA, uma Liga Europa, nove campeonatos nacionais, seis taças de Portugal e nove supertaças.
É impressionante. Cá, como em qualquer parte do mundo. Mas porque refiro apenas estes doze últimos anos e não um período mais alargado que cubra uma lista ainda maior de sucessos do FCP? Porque foi exatamente durante este longo período e apenas durante ele, que não se sentiu um gesto, não se ouviu uma palavra, uma saudação, manifestando o apreço e o reconhecimento do município por qualquer das inúmeras conquistas nacionais e internacionais conseguidos por uma das mais antigas e prestigiadas instituições da cidade. A coberto de uma pseudo-separação entre o desporto e a política (ou melhor, como gostam de referir alguns intelectuais de fim de semana, entre o futebol e a política), a Câmara Municipal do Porto fez questão de ignorar o sentimento da maioria dos seus cidadãos. E, no entanto, muitos foram os municípios que reconheceram o contributo do clube para o prestígio de uma região que os envolve e que supera em muito os pequenos limites da cidade do Porto.
Tão anormal foi sempre este silêncio, que o então primeiro-ministro, Pedro Santana Lopes, fez questão de vir ao Porto condecorar o FCP e o seu presidente pelo imenso prestígio conseguido em 2004 com a conquista da Liga dos Campeões e da Taça Intercontinental. E não o fez nos Paços do Concelho, como seria normal. Fê-lo no Estádio do Dragão, numa cerimónia bonita mas deslocada. E em 2011, quando do triunfo do clube na Liga Europa, o presidente da Câmara de Lisboa, António Costa, quis homenagear os Dragões participando no jantar comemorativo que a filial de Lisboa promoveu naquela cidade.
Simplesmente, não há desculpa. Como se pode constatar pelo imenso rol de sucessos desportivos (e só aqui estou a falar de futebol por ser a modalidade de maior popularidade e impacto internacional), ao clube não fez qualquer falta o apoio e a solidariedade municipal. Os êxitos continuaram mesmo com a hostilidade camarária. Mas foi pena que assim tenha sucedido. É uma nódoa negra que marcará definitivamente estes mandatos. Chegou ao fim. Mesmo antes de saber quem vencerá as próximas eleições, todos temos já uma certeza - futuros sucessos desportivos serão celebrados na Avenida dos Aliados com as portas da Câmara abertas de par em par. Assim estes sucessos continuem a acontecer.