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Um grande desafio que se coloca à Humanidade neste tempo de caminho acelerado para uma nova era mundial parece ser o futuro das nações. Tudo indica que o que surge em preparação não seja nem a dissolução das nações na sopa da globalização, nem a sua transformação em empresas multinacionais. É preciso cuidar da sua identidade com verdade, coisa que o colonialismo e o neocolonialismo, designadamente europeus, até hoje, não trataram bem.
Esta questão situa-se, em certos aspetos, para além da disputa dos projetos políticos, ou seja, os projetos políticos não deixaram de ser cruciais, mas o movimento das placas tectónicas da geopolítica e da geoestratégia, conjunturalmente, induz relações que ultrapassam a clássica arrumação das famílias políticas. A complexidade aumenta com a onda neoconservadora e fascista a surfar as ondas da mudança em vários campos.
Esta reflexão surgiu-me ao observar quatro acontecimentos recentes: a 25.ª Cimeira da Organização de Xangai, realizada na semana passada na cidade portuária de Tianjin; o discurso sobre o estado da União, de Ursula von der Leyen, no Parlamento Europeu; o ataque terrorista de Israel ao Qatar, com os Estados Unidos da América informados previamente; e a visita de Estado do nosso primeiro-ministro à China e ao Japão.
Vinte e cinco anos depois da primeira, a Cimeira de Xangai mostra que estão ali nações que contam muito para a construção do futuro, como vincou o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, presente na Cimeira. Estes países participam nos jogos mais ou menos sujos que estão em curso, mas trabalham relações novas, em que querem afirmar o respeito pelas nações. Os discursos de Trump sobre aquela Cimeira foram patéticos. As nações não são empresas e as relações entre estados não são meros negócios. O Ocidente estruturou instituições mundiais que marcaram muito o rumo da sociedade e as relações entre os povos. Quando, hoje, uma parte grande das nações lhe diz que elas têm de ser mais universais, abandonam-nas e agem para as matar.
Von der Leyen produziu um discurso com o tema da defesa no centro e abordou-o como se fosse da sua competência, quando é matéria da responsabilidade dos estados. Muitos dirigentes máximos de países europeus acarinham este agir distópico da mais alta funcionária: serve-lhes como justificação para castigos que estão a impor aos seus povos. Mas, como serão as nações a ter de adotar medidas, esta estratégia só acumula problemas. E, seguramente, não iludem líderes políticos chineses, indianos, sul-africanos, russos, brasileiros e outros, que trabalham para uma nova ordem mundial.
A visita do primeiro-ministro à China e ao Japão poderá ser importante, se contribuir para Portugal alavancar relações tendo em conta a sua história e a integração numa comunidade de países e povos que têm o português como língua comum. Se foi com a agenda Von der Leyen, não tratou do nosso futuro.