O fim da II Guerra Mundial, em maio de 1945, havia deixado a esperança de que nada semelhante voltaria a solo europeu. Vã esperança. A humanidade, ou a falta dela, continua a surpreender pelas piores razões.
Corpo do artigo
É verdade que a Europa não está a viver, no verdadeiro sentido da palavra, uma terceira guerra mundial. As cifras da tragédia estão bem longe dos 60 milhões de mortos contabilizados no fim do conflito, que dividiu literalmente a Europa a meio. Mas esta estatística, ainda que favorável, não nos deve afastar do essencial. Na Europa, em pleno século XXI, homens que há pouco tempo eram irmãos matam-se uns aos outros. E isso é intolerável.
Ontem comemorou-se o Dia da Europa. A Rússia que tinha razões históricas para celebrar, graças ao papel da União Soviética na II Guerra Mundial, neste momento, apesar dos desfiles na Praça Vermelha, com a pompa e circunstância do costume, não tem como disfarçar o incómodo de não ter nada a festejar - bem ao contrário.
E a União Europeia, com os seus esforços diários a tentar convencer-se de que a guerra, apesar dos males, é uma oportunidade de afirmação, apenas tem mostrado as dificuldades em responder a uma só voz ao conflito. E demonstra como, devido a interesses económicos, a Europa fez tábua rasa do regime de Putin, que todos sabiam de democrático ter quase nada. De repente, a guerra acordou o velho Continente, mas a grande economia alemã tem-se visto em grandes dificuldades para desatar os nós que a liga à Rússia. A economia a falar mais alto, naturalmente.
Do desfile de sanções, já todos lhe perdemos a conta, ao desfile de visitas a Kiev, os líderes europeus abraçam Zelensky. Garantem que o presidente ucraniano "é um dos nossos". Mas, a crer nas últimas declarações, esfriaram o entusiasmo que haviam demonstrado em acolher o seu país no seio da União Europeia. Enquanto a Ucrânia não for uma verdadeira democracia - e um país que ilegaliza partidos políticos não o é verdadeiramente, embora também por aqui alguns sonhem ilegalizar o PCP -, terá de esperar.
*Editora-executiva-adjunta