Por causa dos fusos horários - só a Federação Russa tem uma dúzia -, a comemoração do chamado "Dia da Vitória" sobre a Alemanha nazi e o Terceiro Reich de Hitler reparte-se entre os dias 8 e 9 de Maio. O de 2022, hoje, assumiu, entretanto, proporções exageradas por causa do conflito ucraniano.
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Desde que Vladimir Putin preside à Federação Russa, o "Dia" é celebrado com gigantescas paradas militares na Praça Vermelha. O contexto em que ocorre é que mudou. No fundo, a Rússia está em guerra "física" com a Ucrânia. E o "Ocidente", por interposta Ucrânia, acaba por estar igualmente em guerra com a Rússia pela forma como decidiu ajudar a primeira e sancionar a segunda. É preciso não esquecer que, em 1941, a Alemanha estava praticamente às portas de Moscovo. E que a resistência que se desenharia até Berlim, em 1945, começou precisamente na parte asiática da Rússia. Pelo caminho, construíram-se "repúblicas soviéticas" que, aquando do colapso da URSS, viraram estados, na maioria, sem nações. Por exemplo, a Ucrânia, em 1997, já tinha "relações privilegiadas" com a NATO. A frota norte-americana passeava-se tranquilamente no mar Negro. Os alemães enfiaram Lenine e o sr. Bronstein (Trotsky) num comboio e mandaram-nos para a Rússia a fim de perpetrarem o desmembramento revolucionário do Império. Muitos anos depois, os EUA usaram a mesma Europa, via NATO, para acabar de vez com a "união das repúblicas" e quebrar a espinha ao pan-eslavismo russo. As duas regiões do Don, toda a faixa meridional da "Nova Rússia" (Melitopol-Kherson-Odessa) e a Crimeia - que nunca tinham pertencido à Ucrânia antes do dito Lenine - entraram no pacote daquilo que culminaria, segundo o insuspeito A. Soljenitsyne, numa "pilhagem de Estado" efectuada, então, pelo belicoso Kruschov. Tudo isto está na cabeça de Putin. Tal como a "Europa", que conheceu por dentro enquanto espião deslocado do KGB. E de tudo isto ele falou pelo Mundo fora, em cimeiras multi ou bilaterais. Duas ou três coisas, porém, são indisputáveis. Foram os "untermensch" russos (os sub-humanos, como os designava o Terceiro Reich) do Exército Vermelho que derrotaram os alemães na Europa. Como escreveu Vasco Pulido Valente, "de 1941 a 1944, a esperança da Europa viveu da resistência "russa" e das vitórias do Exército Vermelho". Nem De Gaulle, nem Churchill "libertaram a Europa", continua ele, porque, em 1940, existia na Europa uma total "incompreensão das condições do conflito" e praticava-se uma "doutrina defensiva obsoleta". Aguardemos, pois, pelo desenrolar desta cibernética histórica que não começou, famosamente, no dia 24 de Fevereiro de 2022 como pensam os brutos de serviço. E que não terminará tão cedo.
o autor escreve segundo a antiga ortografia
Jurista