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“Esta é a madrugada que
eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite
e do silêncio
E livres habitamos
a substância do tempo”
Sophia de Mello Breyner Andresen, poeta que traduziu a Revolução dos Cravos na sua mais pura essência, compele-nos nesta quadra a sabermos manter os valores que Abril nos deu com responsabilidade e com compromisso inabalável.
Esquecermos, no meio da espuma dos nossos dias e deste tempo perturbador, que sentimos que pode a qualquer momento transformar-se numa tempestade de trevas e de guerra é mais do que uma traição aos ideais da liberdade e da democracia: é, seria, uma traição a nós mesmos.
O dia inicial inteiro e limpo exige-nos, pois, um trabalho permanente de crença, de defesa do que alcançamos (e foi tanto!) e de aperfeiçoamento do que fazemos para atingirmos ainda mais o que desejamos para Portugal.
Longe dos tempos do medo, da perseguição, da censura, da exploração e das desigualdades mais gritantes, não podemos, no entanto, estar desatentos ao que nos pode fazer perder o que ganhámos.
Perante os que não valorizam suficientemente a democracia, a tolerância, a liberdade e a solidariedade, devemos persistir na pedagogia, na defesa intransigente do que temos e não aceitamos perder.
E o que está em jogo é mesmo ganhar ou perder! Os direitos que adquirimos, os progressos sociais e económicos...…tudo o que nos fez evoluir para um país europeu mais justo, desenvolvido e humanista não pode ser posto em causa, sobretudo quando se levantam vozes que o tentam fazer.
As comemorações dos 50 anos do 25 de Abril têm uma particular importância nos dias de hoje. São muitos os momentos de celebração previstos e sente-se uma forte adesão dos portugueses a esta celebração coletiva.
Por todas as freguesias e municípios, multiplicam-se evocações, celebrações e homenagens que enriquecem as comemorações oficiais. É uma oportunidade de relembrarmos os heróis de Abril, tão genuinamente representados por Salgueiro Maia na sua generosidade e na sua vontade de mudança.
A Associação Nacional de Municípios Portugueses celebra, como o faz todos os anos, este dia que nos viria a dar também um poder local democrático. Desde 1976, data das primeiras eleições autárquicas livres, que muitos milhares de portugueses têm servido as suas comunidades, seja nas assembleias de freguesia ou municipais, seja nos executivos municipais.
Autarcas que deram um enorme contributo para que a democracia se concretizasse em reais melhorias de qualidade de vida das pessoas e no desenvolvimento local, fazendo de Abril uma realidade sentida por todos.