O Dia Internacional das Mulheres foi ontem e é todos os dias
A data, 8 de março, assinala a luta de muitas mulheres para conquistar direitos no trabalho, na política, na família e na vida pública. Ao longo de mais de um século, o imaginário coletivo povoou-se de memórias de heroínas, de lutas e movimentos, de ações exemplares de resistência e de coragem.
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Entre nós, houve muitas pioneiras na defesa dos direitos das mulheres, mas foi o 25 de Abril que trouxe uma revolução inimaginável para as portuguesas, na família como no acesso a profissões, ou nos direitos civis e políticos. O progresso foi imenso e hoje Portugal é um dos países menos desiguais no plano da participação das mulheres no mundo do trabalho, em quinto lugar, entre os 28 países da OCDE, no "glass-ceiling index" da revista "The Economist" (apenas superado pelos países nórdicos). Porém, continuam a ser necessárias medidas políticas em várias frentes.
Sublinho a importância da contínua necessidade de medidas de promoção da igualdade entre homens e mulheres no acesso a todas as funções e cargos e ao espaço de debate público. Nos cargos políticos, aquele que mais resiste às "leis da paridade" é o de presidente de câmara. Apenas uma mulher presidente para cada nove homens. Há partidos, movimentos e candidatos independentes que preferem pagar multas a cumprir as regras de composição paritária das listas.
No que respeita às profissões, perante as mudanças induzidas pelas tecnologias digitais, é preocupante que as mulheres se afastem de projetos profissionais nas engenharias da informática e das telecomunicações, na ciência de dados e na inteligência artificial. São cerca de 20% as mulheres que frequentam estes cursos. Ora, as tecnologias digitais estão na base da formatação do mundo atual. E as mulheres não podem ficar à margem da construção do futuro.
Nesta data, é costume fazerem-se listas de mulheres que se distinguem na ciência, na política, na medicina, na engenharia, no ensino, na música ou no desporto, para as homenagear, revelar a excecionalidade dos seus percursos e inspirar novas gerações. Procura-se demonstrar que o mundo está a mudar, que muitas mulheres vencem os obstáculos com que ainda se deparam.
Porém, ainda não estamos lá. O dia das mulheres tem de ser todos os dias. No que dizemos e no que fazemos. No que ensinamos e exigimos aos nossos filhos e netos. Na valorização do que temos, mas que não tiveram as nossas mães e avós. E na afirmação de que, para o acesso à igualdade, não devem ser exigidas qualidades excecionais de supermulher.
*Professora universitária