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Estamos pejados de dias internacionais, disto e daquilo e das coisas por vezes mais improváveis. Ontem, no entanto, o tópico foi importante: 17 de outubro assinala o Dia Internacional de Erradicação da Pobreza.
O relatório do Eurostat sobre o assunto, cru como costuma ser este tipo de documento, conta-nos que aproximadamente um em cada quatro europeus está em risco de pobreza (24,4%), e que este número é superior ao de 2008. Conta-nos como estes seis anos foram maus e, sobretudo, como as tendências percebidas não são as melhores. Diz-nos ainda que, com exceção de alguns dos países da antiga Europa do Leste, quanto mais se anda para sul nesta União Europeia, mais tendência haverá para encontrar pobreza ou exclusão social. Em Portugal, por exemplo, em 2014 estavam 27,5% em risco de pobreza. Na Grécia, 36%. Em Espanha, 29,2%. E sabemos como estes números não tomam em consideração os que se foram e que, evidentemente, não integram as estatísticas.
Havendo risco de pobreza, e com exceção de Espanha e da Polónia, é ele mais elevado tratando-se das mulheres - e por vezes, como na Suécia, com diferença significativa. Confirma-se, além disso, outra tendência firme: o ensino superior continua a ser, em Portugal, um valor sólido para escapar ao risco de pobreza, numa relação vantajosa de 1 para 3.
Cuidado, porém, porque mais vale de certeza estar em risco na Suécia do que mais desafogado em Portugal. E mais valerá de certeza estar em risco em Portugal do que sentir-se mais desafogado na Bulgária. De facto, a definição de risco é relativamente arbitrária e, sobretudo, relativa. Na verdade, estará em risco de pobreza aquele que, depois dos descontos, pagamentos de impostos, etc., ficar com um rendimento disponível abaixo de 60% da média nacional. Imaginem, por isso, o que seja andar pelos 50% da média nacional búlgara, e comparem com 50% da média sueca, e digam depois o que preferiam.
Havendo números que demonstram tudo e o seu contrário, também podemos ser otimistas. E reconhecer que, nos últimos 20 anos, perto de mil milhões de pessoas saíram da zona da pobreza extrema. Mas não deve reconhecer-se menos que, na União Europeia, as nuvens continuam sombrias e o tempo muito instável. E em Portugal, claro, também.
Mais vale estar em risco de pobreza na Suécia do que mais desafogado em Portugal. E mais valerá estar em risco em Portugal do que sentir-se mais desafogado na Bulgária. A definição de risco é relativamente arbitrária e, sobretudo, relativa.
PROFESSOR UNIVERSITÁRIO