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Na sequência das eleições de domingo, o país ficou politicamente partido ao meio. O Sul, de Castelo Branco e Setúbal para baixo, premiou os partidos de Esquerda e as opções mais radicais. O Centro e o Norte, de Lisboa e Santarém para cima, expressaram uma votação maioritária na coligação Portugal à Frente e nos partidos do Governo. Geograficamente e com pequenas exceções, o Rio Tejo marca com rigor quase milimétrico a divisão do país em duas metades. Não me espanta nem me surpreende que assim seja.
O Norte e o Centro são polos de desenvolvimento económico, de capacidade exportadora e de criação de emprego. Ancorada no empreendedorismo, na iniciativa privada e na pujança das universidades de Aveiro, Coimbra, Minho, Porto e Trás-os-Montes e nas múltiplas e respetivas start-ups, a região produz, inova e exporta, sem estar pendurada nos apoios e nas medidas do Estado central.
No Sul, não obstante o dinamismo de alguns setores de atividade, como o agroalimentar, o turismo e alguma indústria, a realidade apresenta-nos um país mais envelhecido, menos criativo e muito, mas muito mais dependente dos cofres do Tesouro - por via de uma cultura do subsídio que infelizmente não está ainda erradicada, por inerência do predomínio do emprego público ou indiretamente na órbita do Estado e em consequência de uma economia assente nos serviços, pouco geradora de valor acrescentado.
As simplificações podem ser redutoras e injustas, mas diria que o Norte do setor privado e empreendedor percebeu melhor o esforço de Portugal nos últimos quatro anos e meio e entendeu que o caminho proposto pela coligação que continua a liderar os destinos do país representa uma solução de crescimento, de segurança e de estabilidade. Ao passo que o Sul, funcionalizado e "estatista", preferiu antes apostar maioritariamente nas facilidades prometidas por amanhãs que cantam.
Descartando qualquer ideia de regionalismo ou tentação divisionista, a verdade é que é do lado de uma economia que funciona, que progride e que cria riqueza que é possível gerar emprego, crescimento e bem-estar. A continuidade das reformas do Estado, levadas a cabo (e bem) pelo Governo, encontrará sempre maior abertura e maior acolhimento por parte de um Norte e de um Centro que estão preparados para as receber, porque as antecipou, do que no Sul, ainda dependente das benesses do poder e dos privilégios do Estado.
Saiba o novo Governo retirar as conclusões dos resultados eleitorais de 4 de outubro e o caminho de investimento, modernização e valorização do país encontrará devido retorno num território que, antes de se queixar do passado, continua sempre a olhar para a frente.
*EMPRESÁRIO E PRES. ASS. COMERCIAL DO PORTO