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Os resultados das eleições de ontem, marcadas por um crescimento da abstenção, deixam o país numa situação semelhante à anterior.
Perante este cenário, incapaz de gerar uma maioria parlamentar, resta a quem vence a humildade de saber ouvir e de saber negociar. E à oposição a responsabilidade de permitir uma governação democraticamente equilibrada, que defenda o bem do país e dos portugueses.
Em nosso redor, o Mundo continua turbulento. Uma nova estrutura ainda não evidente da ordem mundial recomenda cautela, prudência e bom senso às forças políticas que acreditam na democracia como elemento inalienável do nosso quadro nacional.
O que os portugueses disseram é que a diversidade de opiniões, de visões para o país e de organização da sociedade é clara. Cabe ao PSD e ao PS, dentro dos seus posicionamentos na área da social-democracia, defenderem o Estado de direito, os pilares do Estado social e os valores da democracia, da liberdade, da igualdade de oportunidades, da justiça social.
Não defendo um bloco central na sua configuração clássica. Defendo um quadro de diálogo franco, de negociação aberta e de criação de consensos sempre que necessário. Na defesa do Serviço Nacional de Saúde, na defesa da concertação social, do aumento de salários, na resposta à crise da habitação, nos mecanismos de proteção social dos mais frágeis, na reposição de poder aquisitivo das classes médias, na segurança interna e externa, no aprofundamento da integração europeia…
Estes são os valores do PS, da liderança da esquerda humanista, que os socialistas continuarão a defender, por serem também a matriz do Portugal de Abril.
É certo que a nossa democracia não tem sido marcada por esta flexibilidade de entendimentos, originando momentos de instabilidade política e eleições antecipadas que os portugueses parecem não desejar, num clima de confronto mais centrado em incidentes e “casos e casinhos”, do que no salutar confronto de ideias.
O Governo de António Costa, com uma maioria absoluta que garantia, aparentemente, estabilidade, foi particularmente bombardeado por esta lógica de ataque cerrado. O Governo de Luís Montenegro recebeu do PS o apoio necessário para poder governar, mas optou por “esticar a corda” com uma moção de confiança desnecessária e que nos conduziu a estas eleições.
Este é o tempo de sermos os adultos na sala. De elevarmos o debate político acima das lógicas taticistas. De sabermos dizer à maioria de portugueses que entregou o seu voto aos partidos do arco central que esse voto será respeitado e contribuirá para um país melhor.