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Aviso: vai (re)ler um texto publicado neste espaço a 26 de julho. Mantém toda a atualidade. Até amanhã ainda estamos no verão e só tem de substituir a referência a agosto por setembro.
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Tal como tende a diminuir o tormento dos casais em vias de divórcio litigioso sempre e quando há uma tentativa de reconciliação, também os índices de crispação da coligação governamental PSD/PP baixaram perante a chance de pacificação prometida - e aceite, a custo, pelo presidente da República. A rutura dos casais desavindos afeta o núcleo familiar e de amizades; a do Governo, a curto prazo e goste-se dele ou não, gera turbulência no tecido social.
O país vive, pois, na expectativa do resultado da segunda lua de mel dos séquitos de Passos Coelho e Paulo Portas.
Em pleno verão e de bolsos vazios, os portugueses enfrentam, enfim, o sonho de dispor de um agosto sossegado, seja ele a trabalhar ou fazendo contas ao que enfiar numa lancheira para satisfazer os filhos na praia mais próxima...
Metido o arrufo político entre parêntesis, a estratégia alimentadora do arrefecimento da crise e das imposições previstas para o financiamento de um país falido é bem-vinda; mas ilusão e ilusionismo não são confundíveis.
Juramentado o entendimento - e o Partido Socialista recusou-se a fazer o papel de padrinho de um segundo casamento - a coligação PSD/PP não fintou ainda o mais difícil dos desafios: a redução da despesa do Estado em mais de 4 mil milhões de euros nos próximos dois anos.
Sob o eufemismo da Reforma de Estado, o compromisso existe perante os credores internacionais e estão cada vez mais encurtados os prazos para o "casal" se decidir. E das duas uma: ou entra numa choraminguice pegada e cativa os financiadores para uma flexibilização das metas do défice (sinónimo de passagem do país da Unidade de Cuidados Intensivos para a dos Intermédios) ou não resiste e, continuando o cerco do Tribunal Constitucional, arrisca uma zaragata ao cortar a eito! E a despesa pública é, no essencial, formatada pelos salários da Função Pública e apoios sociais, das pensões de reforma da Segurança Social e da Caixa Geral de Aposentações a subsídios de desemprego....
A margem é curta para uma estratégia de alto risco - vai de 22 de setembro a 15 de outubro. Menos de 30 dias!
Expliquemos:
A 22 de setembro realizam-se as eleições na Alemanha. A chanceler Merkel será reeleita e os otimistas acreditam ser a senhora capaz de tornar-se a partir de então mais dócil com os devedores. Cometem um erro de avaliação mas, enfim... E 15 de outubro, entretanto, é a data-limite para a apresentação do OE de 2014 na Assembleia da República. Com cortes. Os já prometidos ao tempo gaspariano do Governo ou os entretanto calibrados em consonância com as 8.ª e 9.ª avaliações da troika, sempre depois de Merkel sufragada, e das quais depende a passagem de um cheque de 5,5 mil milhões de euros.
A reconciliação PSD/PP tem, pois, o teste de todos os testes marcado no calendário: entre 22 S e 15 0. Até lá façamos todos o favor de tentar ser felizes....