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Quando já estávamos convencidos de que não havia maneira da Direita portuguesa se entender, eis que nos tiram o tapete. Ontem, Chega, CDS, PSD, IL e o deputado não inscrito Miguel Arruda votaram a favor de duas recomendações que insistem na retirada de circulação de um livro intitulado “O direito a ser nas escolas”. Deve ter sido um conselho apreciado pelo Governo porque, de acordo com o “Público”, ele já foi retirado do site da Direção-Geral da Educação.
Eu fui a correr lê-lo, porque assim que me dizem que um livro é proscrito vai logo para o topo da minha pilha de livros por ler. Eu, se vivesse na Arábia Saudita, uma das minhas resoluções para o novo ano era para ler, sim, mas menos. Tenho de ser sincera: não fiquei chocada com a aprovação destes projetos de resolução. Se fosse banir o “Guerra e paz”, ficava realmente impressionada por haver alguém do Chega a ter lido um livro de 400 páginas, agora o “Direito a ser nas escolas”? No fundo é um conjunto de 32 páginas a contar com o índice, tem letras grandes e algumas folhas têm bonecos. Só não são partidos que querem banir livros porque aquilo espremidinho são 17 páginas em que pelo menos três delas são relatórios de estudos europeus sobre o ambiente escolar, onde se provou que a violência associada a discriminação é para ser levada a sério. Este guia, no fundo, tenta ajudar a operar nestes temas mais sensíveis com o objetivo de mitigar os nossos números que são profundamente embaraçosos.
É um manual destinado a pessoal docente e não docente para tentar fazer da escola um espaço mais inclusivo e livre de discriminação, que apresenta políticas anti-bullying e orientações para a prevenção da violência, promovendo uma cultura de direitos humanos para tornar a escola naquilo que ela deve ser: um espaço mais seguro para crianças e jovens. Mas isto seria um guia útil se quiséssemos desenvolver cidadãos saudáveis e menos lixados da cabeça. Mas é capaz de ser o lóbi da saúde mental a querer garantir os seus utentes de amanhã.
Durante o debate no Parlamento, o deputado Bruno Vitorino disse querer acabar com “a loucura woke da Esquerda”. Mas digo-vos uma coisa, bastou uma pesquisa no Google pelo nome do deputado do PSD para ficar com algumas dúvidas sobre quem é o verdadeiro obcecado por estas questões. O próprio tema “LGBTQIA+” devia pedir uma ordem de restrição contra o deputado e andar sempre com uma latinha de gás pimenta na carteira. Quando menos se espera, lá está ele a espreitar. Se estivessem a aceitar apostas sobre os próximos nomes do PSD a migrar para o Chega, eu metia dinheiro no deputado Bruno. Já em 2019, Bruno insurgiu-se publicamente contra uma palestra informativa sobre identidade e sexualidade com toda a urbanidade, escrevendo no seu Facebook: “Que porcaria é esta?”. Aqui entre nós, o deputado Bruno só ainda não piscou o olho ao André Ventura porque mau! Temos cá maricas?

