O discurso final da dra. Manuela Ferreira no congresso de Guimarães deixou meio país apreeensivo: a nova líder do PSD limitou-se a diagnosticar os problemas, sem avançar soluções para os ditos. Uma desilusão, portanto.
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Um dia depois, o regressado Morais Sarmento lá deu um exemplo: com a dra. Ferreira Leite na liderança do Governo, não haveria TGV em Portugal. Os milhões que vão gastar-se na obra seriam encaminhados para apoios sociais. Ou melhor: para combater o estado de "emergência social" em que o país se encontra, de acordo com a nova líder do PSD.
Os mais iludidos terão achado que a dra. Ferreira Leite aproveitaria o momento de consagração perante os seus pares para, ajudada pelos ilustres especialistas que a acompanham na tarefa, impressionar o país não com uma, mas com várias panaceias. Lamentavelmente, a dra. Ferreira Leite não podia, não pode, nem poderá apresentar aos portugueses muito mais do que aquilo que apresentou: um breve retrato das dificuldades (de resto conhecidas por todos) e diferenças de pormenor nas propostas para delas fugir.
A conversa sobre a utilização do investimento público como motor da economia, sobre o estado de "emergência social", sobre o estado da saúde, da educação e da justiça, sobre a necessidade de reformas estruturais, sobre a crise global e a crise local é isso mesmo: conversa. A dra. Manuela Ferreira sabe quão estreito é o caminho para resolver esses e outros magnos problemas. A dra. Manuela Ferreira Leite sabe que o Governo, ainda por cima de um país periférico e economicamente vulnerável como o nosso, só pode deitar mão a um curto par de instrumentos para nos salvar do abismo. A dra. Manuela Ferreira Leite conhece bem as resistências corporativas às reformas. Enfim, a dra. Manuela Ferreira Leite sabe que o estado da arte aconselha precaução nas propostas e comedimento nos anúncios salvíficos.
A imagem de rigor e de responsabilidade que com tanto afinco tem vindo a construir deixa, de resto, a nova líder do PSD condicionada nas opções: a estimável promessa de dizer a verdade e apenas a verdade aos portugueses implica dar-lhes conta do possível e não do imaginário. Temo que a dureza da crise - cujo fim ninguém com um mínimo de bom senso se atreve a decretar - seja já suficiente para que entre os portugueses exista ainda uma alma disponível para ouvir novos discursos sobre os duros anos de privações que temos pela frente até alcançarmos a felicidade. Esse é, em bom rigor, o grande desafio de Manuela Ferreira Leite: ter engenho e arte suficiente para descobrir caminhos alternativos aos do Governo de Sócrates e apontá-los sem deprimir ainda mais o bolso e a vontade dos portugueses. A equação, como se vê, não tem solução fácil.