"Para certos países do Sul da Europa, como Portugal (......), a diferença na qualidade da gestão explica metade da distância na produtividade total dos factores relativamente aos Estados Unidos (......)".
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Mesmo que o processo não seja mecânico, somos tentados a dizer que, se a qualidade média da gestão das empresas portuguesas fosse igual à das empresas americanas, tal facto, só por si, reduziria a diferença na produtividade entre os dois países para metade. Num país habituado a imputar o seu atraso económico ao Estado, está na altura de começar a prestar atenção a conclusões como esta. Resulta de um estudo sobre a qualidade da gestão no Mundo (http://worldmanagementsurvey.org), que se vem efectuando há 10 anos. É verdade que a explicação para a diferença fica a meio, o que não invalida a perplexidade por se falar tão pouco de um factor com esta relevância, por comparação com a conversa sobre políticas públicas e custos de contexto.
Talvez seja o resultado de não termos plena consciência do problema. O referido estudo é, a esse propósito, elucidativo: quando é pedido aos gestores portugueses que façam uma auto-avaliação da qualidade das suas práticas de gestão, atribuem-se a si próprios méritos que os colocam no quarto lugar do ranking. Neste domínio, auto-estima não nos falta! Imagine quem serão os outros três países melhores do que nós? Brasil, em primeiro lugar, Grécia e Índia. Nem mais, nem menos!
O "Expresso" deste fim-de-semana é um bom exemplo de que este é um assunto pouco explorado. A sua secção de Economia contém dois inquéritos, um a gestores saídos de um dos MBA mais prestigiados do país, e um outro a um conjunto de empresários e/ou gestores representando o tecido empresarial português, com especial ênfase nas chamadas start-up. As perguntas induzem à ladainha costumeira: o peso do Estado é excessivo, os estímulos ao crescimento da economia são insuficientes. A questão que anda mais próxima da gestão remete, mais uma vez, para o contexto e a resposta não se faz esperar: para melhorar a produtividade é necessário que o despedimento seja mais fácil (pensar que esta possa ser, também, uma conclusão subscrita por start-ups, não augura nada de bom). Que tal, numa próxima oportunidade, incluírem umas perguntas sobre a qualidade da gestão interna da respectiva empresa? Sobre práticas que dependem do empresário ou do gestor e, pouco ou nada, do Estado como, por exemplo, mecanismos de controlo de gestão, ou de fixação de objectivos ou de sistemas de incentivos. Não é preciso fazer um grande esforço: no estudo em causa há uma lista de perguntas que, estou certo, os respectivos autores autorizariam que fossem usadas, desde que tivessem acesso aos resultados.
Como sempre acontece, a média esconde situações muito diversas: há empresas a operar em Portugal cuja qualidade de gestão ombreia com as melhores do Mundo. Uma análise mais fina faz sobressair um denominador comum: a exposição à concorrência internacional. As multinacionais estrangeiras que operam em Portugal evidenciam práticas de gestão de excelência e as empresas portuguesas internacionalizadas ou exportadoras estão acima da média. Não é de estranhar: a pressão competitiva não se compadece com a ineficiência ou a ineficácia.
Num contexto destes, o discurso de Carlos Tavares, presidente do grupo Peugeot-Citroën, desilude. Para além de uma afirmação que as estatísticas nem de perto, nem de longe, confirmam (custo da electricidade em Portugal 40% superior ao da França), reclama também um ramal ferroviário que lhe permita exportar a sua produção para Vigo. Se lhe perguntassem sobre o peso fiscal, é provável que o achasse excessivo. E talvez considerasse muitos dos investimentos do Estado desasados e o seu peso na economia desconforme. É verdade que um investimentozinho pago pelos outros dá sempre jeito. Como daria ter o tal preço da electricidade de França, as taxas de juro da Alemanha e as leis laborais da Inglaterra. Ah! E os salários portugueses. Como diria o outro, gerir nessas condições, até eu!