A democracia, como disse Churchill, "é a pior forma de Governo, à exceção de todos os outros já experimentados ao longo da história". É mesmo um sistema que permite eleger aqueles que tudo farão para a destruir.
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Apresentam-se como salvadores da pátria, paladinos da verdade e totalmente fora do sistema. Dizem o que muitos querem ouvir e apresentam soluções fáceis para todos os problemas da nação. Propõem-se a resgatá-la das mãos dos corruptos, dos bandidos, dos subsídio-dependentes e dos preguiçosos que vivem à custa de quem trabalha. Nem que para isso tenham de recorrer às falsas notícias, às meias-verdades ou até às mentiras completas.
Por vezes, conseguem os seus intentos. Foi o que aconteceu com Hitler. Outras vezes, o sistema democrático tem uma forma admirável de correr com eles: o voto. É o que está a acontecer com Donald Trump.
Este bem tenta agarrar-se ao poder, pondo em causa as instituições democráticas e promovendo a narrativa de uma vitória que lhe foi roubada de forma fraudulenta. Milhões de americanos acreditaram nas falsidades que ele difundiu através das redes sociais. Muitos deles, incendiados pelas suas palavras, lançaram-se nesse gesto insano do assalto ao Capitólio, numa tentativa desesperada de impedir o colégio eleitoral de ratificar a vitória de Joe Biden.
Quando se apercebeu das consequências do incitamento à violência, Trump viu-se obrigado a recuar, a condenar essa invasão e, finalmente, a reconhecer a derrota eleitoral. Pelo caminho, arrastou cinco pessoas para a morte.
É lamentável que líderes católicos norte-americanos, apoiantes de Trump contra o que será o segundo presidente católico dos Estados Unidos, tenham incitado à não aceitação dos resultados eleitorais e, por isso, terem contribuído para o derramamento de sangue. O editorial do dia 7 do National Catholic Reporter denuncia isso mesmo.
Portugal já está infetado pelo populismo. Não vencerá presidenciais, como nos Estados Unidos, mas o seu discurso antissistémico também tenta pôr em causa as instituições democráticas. Pode galvanizar parte da população, mas não resolverá os seus problemas.
*Padre