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A noticiabilidade ocidental não se detém muito naquilo que acontece em certas geografias. Assim, muitos terão estranhado a capa que, por estes dias, a “Time” fez com Nayib Bukele, o presidente de El Salvador, considerando-o “o mais popular autoritário do Mundo”. O próprio prefere autointitular-se “o ditador mais fixe do Mundo”.
Quando este ano Nayib Bukele foi eleito para um segundo mandato com 84 por cento dos votos, já há muito que a comunidade internacional tinha começado a prestar atenção àquilo que fazia. Por isso, na sua tomada de posse, estiveram presentes várias figuras políticas internacionais, como o rei Felipe VI de Espanha, Donald Trump e diversos líderes regionais. Na América Latina, Bukele transformou-se num modelo a seguir. A sua política repressiva em prol da segurança do país e as suas prisões em massa são exemplos replicados, noutra escala ainda, em países como o Equador e as Honduras. “Tudo na vida tem um custo”, diz Bukele aos jornalistas da revista “Time”, “e o custo de ser chamado autoritário é demasiado pequeno para me incomodar muito”. Mas incomoda várias pessoas em El Salvador que têm medo de falar devido ao clima de repressão que aí se instalou.
Logo no primeiro mandato, Bukele promoveu duras restrições constitucionais, políticas e legais, autorizando detenções sem qualquer mandado de captura e detenções sem qualquer julgamento. Em termos políticos, sente-se uma mão de ferro no exercício do poder. A revista norte-americana recorda que, em 2020, Bukele entrou no Parlamento nacional com soldados armados a seu lado naquilo que constituiu uma musculada demonstração de força para exigir que os deputados votassem um novo financiamento para a segurança. No entanto, este autoritarismo populista tem sucesso e hoje o presidente de El Salvador orgulha-se de reunir uma taxa de aprovação de 90 por cento entre os eleitores.
Não se pense que tudo isso resulta apenas de políticas austeras. Bukele, um antigo publicitário, cuida imenso da sua imagem. Da sua e daquela que projeta do seu país. Parco nas conversas com os jornalistas (a entrevista à “Time” foi a primeira a um meio de Comunicação Social internacional), este homem é muito ativo nas redes sociais, sendo um dos líderes políticos mundiais mais seguidos no TikTok.
Menos eficazes têm sido as suas políticas económicas, sobretudo a decisão de adotar a bitcoin como moeda legal. Bukele não se mostra derrotado: foi uma decisão que deixou uma marca e deu visibilidade internacional ao país, assegura. Esta sintonia com o poder da imagem é permanente. “Um líder deve ser um filósofo antes de ser um rei”, declara em jeito professoral. Uma lição a reter.