<p>Hoje no Cairo, amanhã onde? "Temos uma fila de dominós. Se derrubarmos o primeiro, o que acontecerá ao último é uma certeza, que se revelará, mais tarde ou mais cedo". A "teoria dos dominós", popularizada durante a Guerra Fria, terá começado com uma conferência de Imprensa do presidente Eisenhower, em 1954. Tratava-se de uma previsão sobre o avanço do comunismo: primeiro a Europa de Leste, depois a Grécia, depois o Mundo. Uma nova formulação sobre este contágio existiu, na diplomacia americana, durante a Guerra do Vietname (à queda de Saigão seguir-se-ia o domínio vermelho sobre toda a Ásia), e depois durante a Administração Reagan, quando se previu que a tomada do poder pelos sandinistas, na Nicarágua, poderia brevemente levar o castrismo ao México.</p>
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Durante o consulado George Bush, houve uma espécie de teoria dos "dominós virtuosos": invadir o Iraque, mudar-lhe o regime, poderia propagar o antibiótico libertário, e levar a democracia a todas as Arábias. Esta tese da expansão democrática foi reformulada por Condoleeza Rice, de maneira a coincidir com uma vantagem estratégica. Num discurso pouco recordado, a Secretária de Estado de Bush explicou que, durante muito tempo, Washington fechou os olhos à falta de democracia em regimes aliados do Médio Oriente, para obter estabilidade regional. No fim, não ganhou nem uma coisa nem outra.
Claro que, no que se chamava Próximo Oriente, e no Mundo, há ainda muitos regimes cujos chefes, ou escóis dirigentes, não possuem comprovada aceitação popular. Ou não há eleições, ou nunca houve, ou há só referendos cerimoniais, ou há eleições falsificadas, ou há eleições com candidatos escolhidos a dedo, ou falsa alternativa, ou só a repressão em nome do povo, da pátria, da história, do progresso, da ordem pública, do socialismo ou do capitalismo (riscar o que não interessa).
Todos esses sistemas possuem características próprias: há monarquias benevolentes, tiranias asiáticas, gulags e prisões à noite, autocracias brandas e regimes militares sem piedade. As justificações são diferentes, as doutrinas de Estado também. Uns regimes nasceram de revoluções, outros mataram-nas.
O que se passa no Egipto assim é irrepetível, nos mesmos termos, com os mesmos incidentes, com as mesmas pessoas e consequências.
Mas voltará a acontecer, com variações, em todos os sítios onde o poder tem medo da rua.