<p>O Eurostat, a entidade que gere as estatísticas que revelam as tendências, os caminhos e respectivos resultados obtidos pelos países da União Europeia (UE), tornou ontem mais clara aquela que sabíamos ser uma das mais graves consequências para Portugal da crise económica e financeira. De acordo com aquele organismo, a destruição de emprego foi, no nosso país, mais do dobro da registada na UE (em concreto: 1,1 por cento, contra 0,5 por cento). Para pintar de negro intenso o panorama, a OCDE veio, também ontem, dar uma ajudinha: a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico revelou que a taxa de desemprego se agravou em Outubro no conjunto dos países que a compõem, fixando-se em 8,8 por cento, com Portugal a chegar aos 10,2 por cento.</p>
Corpo do artigo
É um drama? É. Podia ser pior? Podia. Muitos estados membros da UE, entre eles Portugal, têm, desde há um ano, lançado milhões e milhões de euros sobre os graves problemas com que as empresas (sobretudo as pequenas e médias) se debatem. É hoje mais ou menos consensual que, sem esse expediente, a situação do mercado de trabalho seria, por estes dias, bem mais grave.
Posto isto, a pergunta é óbvia: como sair daqui? Não há soluções milagrosas, mas todas as políticas que não incluam um cabal esclarecimento aos portugueses, explicando-lhes que, justamente por falta de uma panaceia, isto vai doer, não serão sérias. Mais: serão um crasso erro político. Mais de metade dos portugueses (57%, segundo o Eurobarómetro) escolhem o desemprego como o principal problema que o país tem que enfrentar. Ou seja: sabem o que os espera. Não os chamar para esta crucial "batalha" seria um trágico equívoco.
A ministra do Trabalho apressou-se a garantir que o Governo continuará a ajudar empresas e trabalhadores. A Oposição cavalgou rapidamente os números, vendo neles a prova provada de que o plano anticrise de José Sócrates está a falhar. Eis o que não se deve fazer, eis o que releva até de alguma irresponsabilidade política. O assunto é - e continuará a ser - demasiado sério para que os "sound-bytes" tomem conta dele.
A luta contra desemprego (a par com a luta contra o défice das contas públicas e o endividamento externo) toca em múltiplas áreas (legislação laboral, política salarial, braço-de-ferro entre sindicatos e patrões, qualificação profissional, flexibilidade... e por aí fora). Uma equação com tantas e tão incertas variáveis não é, com toda a certeza, fácil de resolver. Mas de duas uma: ou as partes se põem de acordo e permitem que o bom-senso prevaleça sobre as vitoriazinhas de curto-prazo, ou a destruição de emprego manterá o seu ritmo galopante. É só escolher.