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A Grécia tem sido o bombo da festa, joguete político de pequena grandeza nesta Europa de grande pequeneza em que a tese da "culpa" é sufocante. De negociação em negociação, de afronta em afronta, o mexilhão grego vai perdendo vigor e charme com o correr dos dias, para só ficar o cheiro acre do medo. Mas, inveterado otimista, acredito que a Grécia não sai do euro. E ainda aposto que o discurso não tem de ser monocromático.
Portugal não podia escapar a este duelo entre o bem e o mal, os "rigorosos" e os "gastadores". Por ora, a contenda tem corrido bem ao primeiro-ministro, pois depressa compreendeu que se os gregos e os "gastadores" fossem o Diabo, ele deixava de ser (só) o miúdo obediente para ser promovido a salvador. Demagógico, mas muito, muito eficiente.
O PS demorou, não aparou logo o golpe e muito menos golpeou. Hesitou? Atrasou-se.
É verdade que o Governo partiu com vantagem, pois é mais fácil apelar a sentimentos básicos. Se eu disser "malandros, paguem!, eu também tive que sofrer para pagar!", o slogan é muito mais atraente para o homem da rua do que falar em solidariedade e em custos a longo prazo. Porque o longo prazo é o sufoco do fim do mês.
Aos partidos do Governo têm chegado e (por enquanto) sobrado mais duas vantagens. A primeira chama-se José Sócrates. Este pode ser inocente como a neve alva da manhã, culpado como noite de breu ou nem uma coisa nem outra, ou antes pelo contrário. Mas o seu processo tem sido, no mínimo, tanto um processo "normal" como um processo político, utilizado como arma de arremesso contra o maior partido da Oposição. E o PS não tem conseguido, sem complexos, denunciar com veemência esta situação, que nada tem a ver com a independência dos tribunais.
Finalmente, este PS está um pouco como o fiambre numa sande americana: entalado entre outras fatias e mais coisas variadas. Apanha pancada da Direita, é roído pelos seguristas, defende-se dos ganchos do presidente e leva caneladas e mordidelas de toda a Esquerda, que tem no PS um fetiche meio erótico. Ora, enquanto o PS não começar a "matar" (salvo seja!), cada frente é uma frente a mais. Ainda está "em tempo", e a sua sorte pode ter sido o surgimento, nesta altura, da primeira sondagem a pô-lo às arrecuas. Mas, cuidado, "em tempo" não é igual a "a tempo".