Apresento-vos o SATU. Não, não é uma personagem medieval de "A guerra dos tronos", nem um ursinho que polvilha de alegria o imaginário infantil. O SATU (sigla para Sistema Automático de Transporte Urbano) foi um devaneio concetual de Isaltino Morais, depois transformado em pequena tragédia pela sucessora Teresa Zambujo, e agora definitivamente engavetado à força por Paulo Vistas, orgulhoso delfim do mais mediático autarca de Oeiras. O SATU é um elefante branco no meio de uma sala do tamanho de uma cidade.
Esta é a história de um dos mais bizarros e controversos projetos de transportes em Portugal. Um metro ligeiro que deveria ligar Paço de Arcos ao Cacém, mas que se ficou pela primeira fase: 1200 metros de extensão, unindo Paço de Arcos ao Oeiras Park. O monocarril inaugurado em 2004 acumulou, mais de uma década depois, prejuízos de 42 milhões de euros. Até ao passado domingo, dia em que fechou, por ordem do Governo. Após anos a fio de contas no vermelho. Na brochura inicial, prometia-se uma procura diária de 30 mil passageiros para a totalidade da linha. Porém, não passaram de 500 as almas que, todos os dias, se dispuseram a desembolsar 1,15 euros por cinco minutos de viagem não poluente.
É certo que o SATU já é um cadáver, mas vale a pena exumá-lo, olhando em perspetiva. E rezar para que negócios ruinosos como este não se repitam na privatização da TAP e do metro do Porto e da STCP, apenas para citar dois dossiês na área dos transportes que não estão propriamente a correr sobre carris.
Mas voltemos ao elefante, para mais dados curiosos: o metro ligeiro de Oeiras, concluiu uma auditoria da Inspeção-Geral das Finanças, foi criado sem ter por base qualquer estudo de tráfego; foi entregue à Teixeira Duarte (construtora que detinha 49% do capital, contra 51% do município) sem acautelar "os princípios gerais da concorrência e da transparência"; e teve um impacto negativo no erário municipal, ainda que a Câmara de Oeiras e a Teixeira Duarte garantam que os prejuízos foram inteiramente suportados pela construtora.
O comboio-fantasma, como desdenhosamente foi apelidado pela população - a qual, admite agora a autarquia, não precisa dele para nada, porque tem alternativas de transportes (!!??) - não é só o resultado da irresponsabilidade de um determinado executivo municipal. O SATU é um erro que se vai repetindo por esse país fora, sob a forma de rotundas, chafarizes, pavilhões multiusos e esculturas mastodônticas. Pensar as cidades com uma betoneira numa mão e um empreiteiro na outra normalmente dá nisto.
